domingo, 26 de abril de 2015

Também é ajudar pessoas, trabalhar em meio prisional. Qual o conteúdo do saber? Que condições?


Também é ajudar pessoas, trabalhar em meio prisional.
Qual o conteúdo do saber? Que condições




KETAMINA NA PRISÃO: droga para que se saiba
Há 5 dias publiquei um vídeo sobre o tratamento e a prisão. Coincidência ou preocupação? De há muito que continua muito por fazer em Portugal.

Os cuidados a prestar aos doentes que vivem na prisão devem ter a mesma qualidade dos que são prestados na comunidade exterior.
Conversei com um colega Homem do terreno e consultor da
UNDOC e da WHO, Andrej Kastelic. Por convite do Dr Andrej participámos num workshop no IV Congresso Internacional Dual Disorders, Addictions and other Mental Disorders, onde apresentamos vídeos de portugueses falando de ESTIGMA. Em breve publicarei esses vídeos.
Hoje e agora o tema em actualidade é KETAMINA. Não porque seja novo, mas porque foi NOVO e DEMAIS o que aconteceu com pessoas que estão a viver numa cadeia. Isto não devia ter acontecido. A ignorância continua.

Para lá da verdade da conveniência
É preciso muito mais do que boa vontade, de palavras simpáticas, de palavras de oportunidade ou oportunistas, ou de palavras de ocasião. É preciso mais saber e mais partilha. As pessoas, muitas pessoas, muitos profissionais têm medo de falar, fecham-se para não serem mal classificados, de perderem a simpatia da chefia hierárquica ou de perder o emprego.
Muitos técnicos perderam o interesse em partilhar. Muitos estão cansados do faz de conta que está tudo bem. Continuamos a reboque do hipertrofiado sucesso da discriminização.
Em Portugal, também o tema Droga e Prisões merece ser falado com toda a verdade, sobre o que foi (ou não foi) feito, sobre o que foi ou não conseguido.
Em Portugal continua a não haver a possibilidade de troca de seringas em meio prisional. Em Espanha estes programas foram bem implantados e funcionam em benefício das pessoas. Porque falharam em Portugal? Que sabemos sobre isto? Que saber e métodos foram disponibilizados, que políticas foram desenhadas? Que avaliação e que consequências práticas?
Não é novidade que em Portugal há quem use e abuse de Ketamina
É de uso ocasional ou até regular em algumas pessoas.
Tratei quem tivesse alucinado com o seu uso. Existe uso relacionado com actividade sexual, por vezes fora de alguns limites… Promete, promete e pode provocar estragos diversos incluindo alucinações.

É fácil de obter para uso veterinário.

Desde há anos constata-se o seu mau uso e abuso como substância/droga em comportamentos ditos recreativos.

No programa da Mala da Prevenção, que continua sem reconhecimento positivo ou negativo pelas autoridades governamentais*, a ketamina sempre foi apresentada e debatida. E sempre que é adequado ao grupo alvo com que se trabalha, são mostrados frascos de ketamina vazios e que foram usados em medicina veterinária.


Os doentes que nos procuraram pelos seus problemas associados ao consumo abusivo de ketamina, referiram as alterações do pensamento e da percepção da realidade como o sofrimento não desejado e que motivou o pedido de ajuda.


Em medicina humana a ketamina tem uso como medicamento nomeadamente no alívio da dor, por exemplo em doentes gravemente queimados, em certos doentes traumatizados. A ketamina também tem uso em obstetrícia na ocasião do parto quando é feita a episiotomia.

Obviamente que numa prisão não se justifica o uso de ketamina.

Trabalhar em meio prisional: que condições? Que saber?
No âmbito do trabalho em meio prisional, quero aqui realçar o empenho, dedicação e desejo de aprender dos profissionais de saúde que conheci há anos nos estabelecimentos prisionais de Angra do Heroísmo, Ponta Delgada e Horta. E quero destacar a actividade dos colegas do terreno que fazem o que podem. Desejo ainda destacar a qualidade da colega psiquiatra Dr.ª Amélia Bentes, sempre disponível para a colaboração e actualização nas iniciativas que ao longo de muitos anos temos promovido e continuamos a procurar promover.
Pena é que muitos profissionais experimentados tenham deixado de colaborar por falta de interesse ou de condições.


* No último livro Políticas e Dependências, escrevi:
Em Lisboa, solicitei aos responsáveis pelos serviços da droga do Ministério da Saúde de Portugal, a apresentação da Mala da Prevenção, para análise e avaliação do projecto, respectivamente em 2003 presencialmente no IDPT, e em 2008 por pedido escrito ao IDT e em 2009 novamente ao IDT. Continuamos a aguardar com educação, uma resposta de quem tenha competência. Apesar desta ausência, a Mala da Prevenção tem sido reconhecida por outros responsáveis de instituições de saúde e de ensino médio e superior, e utilizada em programas de formação em Portugal e no estrangeiro.

Visite e divulgue se concordar:

http://maladaprevencao.blogspot.pt/
http://drogaparaquesaiba.blogspot.pt/
https://www.facebook.com/maladaprevencao.drluispatricio
https://www.youtube.com/user/psimedicina