quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Associação Portuguesa de Patologia Dual admitida na Associação Mundial de Psiquiatria

APPD admitida
 como membro de pleno direito da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA).

Por Luís Duarte Patrício, Médico Psiquiatra, Chefe de Serviço
Director da Unidade de Aditologia/Patologia Dual
http://www.cscarnaxide.pt/unidade-de-adictologia/projecto-terapeutico
Fundada em Junho de 2011
CASA de SAÚDE de CARNAXIDE

XVI Congresso Mundial de Psiquiatria
Madrid, 14-18 Setembro 2014
Conferência da Prof Nora Volkow, presidida pelo Dr Néstor Szerman
Na Assembleia Geral da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA), realizada durante o congresso (dia 16), a Associação Portuguesa de Patologia Dual foi admitida como membro de pleno direito.

http://www.patologiadual.pt/

Assembleia Geral da Associação Mundial de Psiquiatria WPA
Este reconhecimento da Associação Portuguesa é deveras importante para os doentes, para as suas famílias, para os profissionais de saúde, para os profissionais do ensino, para os profissionais da justiça e restantes autoridades, para os políticos, para a comunidade.
·      Para os doentes que assim podem estar mais esperançados porque com este reconhecimento, ainda mais profissionais de saúde incluindo de psiquiatria e saúde mental irão entender as dependências, não como um vício (conceito moral) a combater, mas como uma doença do cérebro que necessita de cuidados de saúde.

·      É importante para as famílias, porque com este reconhecimento terá que aumentar a competência dos profissionais com natural repercussão directa na melhoria das qualidades do tratamento e da prevenção, educação para a saúde.

·      É deveras importante para os profissionais de saúde, porque com este reconhecimento da Associação Mundial de Psiquiatria, clarificam-se ideias e ideais, combatem-se estigmas nos doentes e nos profissionais e aumenta a responsabilidade de cada profissional. Torna-se mais admissível a exigência de competência em Patologia Aditiva para benefício dos doentes, das famílias, da comunidade e dos profissionais. A competência engrandece as qualidades e o valor de cada profissional.

·      É importante para os profissionais do ensino, que directamente ou indirectamente podem beneficiar com a melhoria das competências pedagógicas para a Prevenção, e educação para a saúde, redução de comportamentos de risco (com e sem substância), com reflexo nos alunos e seus familiares, potenciando o valor da escola.

·      É importante para os profissionais da justiça e autoridades a quem cumpre fazer respeitar a lei, porque este reconhecimento pode ser um estímulo para a melhorar a promoção de valores da cidadania com repercussão na prevenção da injustiça ou na aplicação da justiça e uso da autoridade.

·      É muito importante para o Homem político, no âmbito internacional, nacional, regional e local, porque este reconhecimento da Associação Mundial de Psiquiatria, permite o desafio ao compromisso de ouvir e entender os profissionais com competência e não porventura apenas os profissionais de conveniência.


·      E para a comunidade este reconhecimento da Associação Mundial de Psiquiatria, pode ser muito importante, ao permitir ter esperança na melhoria na compreensão da patologia aditiva com reflexo na qualidade da Prevenção da doença e do mal-estar e na melhoria de cuidados de saúde em patologia aditiva/patologia dual, no âmbito da Saúde Pública.

Um caminho a percorrer, uma mentalização a assumir
No início das chamadas toxicomanias contemporâneas, por todo o mundo e em muitos países, a saúde não valorizou as patologias aditivas e nem a própria saúde mental, salvo honrosas excepções, lhe deu atenção. E não era raro que os profissionais de saúde que prestavam atenção aos doentes dependentes fossem estigmatizados.
Assim, em muitos países, durante muitos anos o assunto, o problema “passou” para o âmbito social, religioso, jurídico e da auto ajuda sem apoio técnico da saúde.
Desde os anos sessenta foram acontecendo, gradualmente, em muitos países, muitas mudança para melhor, e noutros países muito pouca aconteceu.
Em Portugal a primeira consulta para tratamento de “Adolescentes e toxicodependentes” foi criada em 1973 (pelo Prof Dias Cordeiro) no Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Em 1977 foram criados no âmbito do Ministério da Justiça, os Centros de Estudo e Profilaxia da Droga (Porto, Coimbra e Lisboa), orientados por psiquiatras.
Em 1983 no Porto, foi criada a consulta para toxicodependentes no Serviço de Psiquiatria do Hospital de São João (pelo Prof Pacheco Palha).
E é em 1987 que o Ministério da Saúde assume o tratamento de toxicodependentes, criando em Lisboa o Centro das Taipas, para onde foram trabalhar psiquiatras vindos do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, equipa da Consulta de Adolescentes e Toxicodependentes, (chefiada pelo Dr. Nuno Miguel) e onde trabalhei, juntando-se mais tarde psiquiatras vindos do Hospital Júlio de Matos e Miguel Bombarda. O Centro das Taipas criou oito antenas em redor de Lisboa, sete das quais seriam autonomizadas dez anos mais tarde.
Assim no Ministério da Saúde gradualmente deu-se continuidade à criação de serviços diversos, SPAT Algarve, CAT Cedofeita e outros centros por todo o país, que seriam a rede nacional do SPTT, serviço eminentemente técnico e que integrou os CEDP.
Este alargamento do SPTT foi construído a nível nacional de acordo com a disponibilidade de médicos psiquiatras, de medicina geral e familiar e de saúde pública.
Posteriormente os serviços SPTT passaram para o IDT, que alargou mais a rede. Já neste século surgiram alterações significativas no IDT, com significativo aparelho administrativo a nível central e regional, e com reforço de nomeações de profissionais não médicos responsáveis pela gestão de serviços.
No âmbito das patologias psiquiátricas associadas ao mau uso da substância álcool, o Ministério da Saúde criou em 1978 os Centros Regionais de Alcoologia em Lisboa, Coimbra e Porto, ainda que os hospitais psiquiátricos e centros de saúde mental distritais assumissem naturalmente o tratamento de doentes com dependência de álcool. Em 2006, por lei, estes centros regionais foram integrados no IDT, sendo que, com ou sem experiência, todos os serviços da rede IDT passaram a ser responsáveis pelo tratamento de doentes com patologias associados ao abuso de álcool.
Entretanto em 2004 o Hospital Sobral Cid criara o Serviço de Alcoologia, que em 2008 evoluiu para Serviço de Adições e que em 2012 deu origem ao Serviço de Patologia Dual.

Associação Portuguesa de Patologia Dual

Criada em Janeiro de 2011, por profissionais do Hospital Sobral Cid, de entre outros, a Associação Portuguesa de Patologia Dual (APPD) organizou trabalho, formações, encontros de profissionais, contactos internacionais e o processo de candidatura à Associação Mundial de Psiquiatria, e em boa hora os seus esforços foram reconhecidos. 

Mérito reconhecido ao esforço da sua direcção, nomeadamente da a presidente Dr.ª Célia Franco e do Enf. Vladimiro Andrade, vice presidente. 
A APPD vai assim reforçar a presença portuguesa na Associação Mundial de Psiquiatria, organização de que faz parte de pleno direito e com longo passado histórico, a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, a quem, também em 2011, foi proposta por psiquiatras a criação da secção de Adictologia e Saúde Mental.
Reafirma-se assim a Patologia aditiva como área indissociável da Psiquiatria e Saúde Mental, tal como a restante comorbidade psiquiátrica.

Os Serviços de Psiquiatria terão que assumir as suas responsabilidades, tal como os restantes serviços de Saúde Pública, incluindo os Serviços de Medicina Geral e Familiar que naturalmente intervêm nos cuidados de saúde mental dos seus doentes, sempre que possível, e desejavelmente em articulação com os Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental da sua área.