sexta-feira, 18 de junho de 2021

Canabis Poder Votos e Dinheiro


 

Canábis: um consumo cada vez mais banal e um potencial de negócio brutal


Os interesses financeiros, os interesses dos mercados são uma realidade


A dimensão geopolítica económica é marcante. Poder votos e dinheiro.


Texto escrito no dia 16 de Junho 2021, em resposta a perguntas da Jornalista Raquel Lito, da Revista Sábado,

em parte publicado na Edição Digital. Com o devido acordo, e agradecendo o convite para participar, aqui publico o meu testemunho escrito.

Luis Patricio


Canábis: um consumo cada vez mais banal e um potencial de negócio brutal.

E com gente mal informada ou não informada, será sempre a crescer o consumo, o negócio. 

Mas também poderão crescer os danos para a saúde. Mas isso a quem importa? A quem diaboliza ou a quem beatifica?

Não sejamos ingénuos.  

Consomem derivados de canábis, ocasionalmente ou regularmente, pessoas dos 10/12 anos aos 60/70 anos.

Não se trata de saúde, bem-estar. Nem de educação e alegria.

Trata-se de negócio, diversão e poder.

Aqui sim, tudo é economia.

Ninguém sabe o teor destes e de outros produtos comercializados ilegalmente.

As autoridades deveriam analisar/avisar pelo menos os profissionais de saúde sobre esses conteúdos, dado que estes profissionais têm a responsabilidade de tratar os consumidores que adoeceram por terem consumido o que desconhecem.

E pasme-se que quem consome, além de consumidor, também poderá ser político, dirigente, médico ou advogado, jornalista, professor, estudante motorista, subsidiado ou desempregado.

 E na verdade da realidade, não sabe o que consome, excepto quando tem acesso a produção de erva caseira, com ou sem uso de fertilizantes/adubos/ herbicidas/ inseticidas e outros químicos. Existe manipulação de sementes, produtos transgénicos?

 Os interesses económicos suportam esta actividade, em tudo o que seja produção animal e vegetal.

O consumidor é, em geral bastante "cego" face ao que consome.

E os consumidores mais velhos, agora com 60 e 70 anos, referem que a canábis do séc. XXI é bem mais “potente” do que a dos anos 60 / 70.

Há 30 anos, em 1991, escrevi “Através de manipulação científica, actualmente é produzido um novo tipo de cannabis em que a concentração do THC é dez vezes mais potente do que, por exemplo, na marijuana dos anos 60. Está na pág. 91, do meu livro Os profissionais de saúde e a droga. 10.000 exemplares de distribuição gratuita

A ciência e os interesses evoluíram muitos nestes 30 anos.

O interesse prioritário do consumismo é a dimensão geopolítica económica. O interesse pela dimensão sanitária e social, existe, mas comparativamente é residual.

O consumo de canábis em Portugal, desde o início deste século tornou-se cada vez mais banal. E trata-se de produto ilegal, de compra no local, e também de venda apregoada na via publica de conhecidos locais, e também de entrega ao domicílio.

As pequenas quantidades representadas (cedidas) por jovens inscritos nas escolas ou desempregados, garantem uma rede de entrega. Estes conhecimentos são partilhados por jovens ou menos jovens que frequentam consultas.

O consumismo explora pessoas e explora melhor pessoas ignorantes, ou ambiciosas e desmedidas e até muitas pessoas em sofrimento. Haja produtos e alvos fáceis ou frágeis e… faça-se dinheiro

Tudo serve para fazer dinheiro e havendo resultado aditivo, com ou sem uso de substâncias psicoactivas, tudo vale. Veja-se o recente exemplo português (e não original) das raspadinhas (comportamento de risco adictivo) para angariar dinheiro para a cultura.

 

A pandemia fez mudar a oferta.

Escrevi sobre isso e publiquei neste blog e em Mala da Prevenção https://www.facebook.com/maladaprevencao.drluispatricio

Houve locais com dificuldades de abastecimento de resina / haxixe/ pólen e também de erva.

Do que oiço, aumentou a produção, plantação de erva caseira, pelos quintais, pelas hortas pelos vales, montes… Com sementes e demais materiais importados por internet

“Não falta quem faça plantações”.

“E há muitos putos na rua a vender”.

“Em muitos sítios, qualquer empregado de mesa ajuda a orientar quem precisa”.

“E na universidade / escola, também há quem ajuda a encontrar”.

“É banal o consumo, até na rua, na esplanada”.




 

A PREVENÇÃO QUE FOI SERVIDA… FALHOU.



AUMENTOU O CONSUMO, a hipocrisia, a demagogia.


Em tempo de confinamento o preço do hax e pólen chegou a duplicar, voltando depois a baixar. 

Houve quem deixasse de consumir erva e pólen / hax,  para comprar na loja ou na net que pensa ser canabidiol e de preço bastante mais caro e de efeito nada semelhante.

Garantia de qualidade quem tem? Penso que com certeza, ninguém.


A dependência é sobretudo psicológica. Mas, a maioria das pessoas junta tabaco ao que consome, e sabemos com o consumo de tabaco, chupar o cigarro aceso,  é aditivo.

Quando o consumidor dependente interrompe o consumo sente privação, nomeadamente aumento da ansiedade e irritabilidade.

 

 O maior perigo de consumir o que não se sabe o quê,  é o desconhecimento.

Há muita vigarice. Se é droga desconfie da qualidade e do que é dito.


Se decide consumir, não fique sozinho, use pequenas quantidades e não queira ser o primeiro. 

Se puder, antes de usar, fale com seu médico sobre o seu estado de saúde e os riscos que pode acumular.

 

Por detrás, ou ao lado, ou em consequência do consumo, pode haver sofrimento que importa tratar, em vez de disfarçar com álcool, ou canábis ou tabaco ou outra substância de abuso.

 

Nesta vergonha do estado de banalização do consumo do desconhecido, há que exigir fazer diferente e melhor. 

Importa conhecer a composição, para tentar reduzir riscos.

 

Discordo de mais uma marcante actividade comercial de dimensão geopolítica económica: aumento facilitado do comércio / oferta.

 

Há que exigir de VERDADE, marcante actividade pedagógica, educativa preventiva na dimensão Sanitária e Social.


A ignorância e a hipocrisia fomentam o estado da situação, situacionismo suportado também na ignorância.


A auto-produção para uso próprio deve ser considerada como atitude válida para redução dos riscos resultantes desta situação de banalização do desconhecido.

A legalização produção comercialização, deverá ter/merecer uma avaliação muito séria, tendo em conta o que outros povos já experienciaram.

 

Note-se bem que:

O uso de derivados da canábis para usos terapêuticos é um outro assunto, e de responsabilidade de âmbito sanitário.