quarta-feira, 6 de maio de 2020

Droga de Confinamento Participação para o Jornal de Notícias


Jornal de Notícias 

Convite Apr 24, 2020, 4:29 PM para partilhar. Estávamos a trabalhar em consulta por videochamada, e entre consultas elaborámos as respostas, sobre o que sabemos, enviadas às 6:33 PM.

Jornalista Delfim Machado:
… solicitar um conjunto de esclarecimentos/opiniões técnicas e médicas sobre o consumo de substâncias psicotrópicas em período de confinamento.
Nomeadamente:
1 – Se existem maiores riscos de aumento de consumos de estupefacientes em período de pandemia. Caso exista esse risco, deve-se a que fatores?
2 – Muitas associações têm falado da escassez da oferta de substâncias resultante do fecho das fronteiras e tráfego aéreo, o que leva a que as substâncias existentes sejam adulteradas.
 esta alteração também aumenta o risco do desenvolvimento de patologias com gravidade para os consumidores… ?
 se tiver outros comentários… mercado, consumo, tratamentos e pedidos de ajuda, dentro do período de pandemia…
Delfim Machado

Texto enviado ao Jornalista Delfim Machado
Parte deste texto faz parte integrante de uma reflexão mais vasta e em construção, anteriormente iniciada e em parte publicada na minha pagina, e que tem contributos de colegas portugueses e estrangeiros e de consumidores e doentes em tratamento.  
Droga de Confinamento e Comportamentos adictivos
Necessidades e efeitos das restrições no consumismo
 Por Luís Patricio

O CONFINAMENTO ou RESTRIÇÃO DE MOVIMENTOS,
provoca intensas mudanças,
nomeadamente redução dos intercâmbios,
anulação de inúmeras actividades e de… viagens, para todos...
E também desencadeia
inúmeras mudanças face aos consumos,
nomeadamente onde a oferta era abundante, muito acessível.

Para o consumidor ocasional agora em confinamento, se consumir menos vezes, tem menos comportamentos com risco.
Para o consumidor regular que insiste no consumo, ou para o consumidor dependente, existem mais riscos, na procura do produto, com maior ou menor escassez e por maior adulteração do produto, e pelo aumento no preço.
Nesta fase, conseguir produto, depende da região do País
Claro que quem não se consegue confinar e “tem que se safar” o risco é acrescido.
Note-se que há consumidores que têm 50, 60 e até 70 anos. São pais, são avós, vivem sós ou acompanhados.

Claro que os mais POBRES e excluídos, porque não têm nada, nem como se proteger, não se podem confinar. Estão sobre expostos a todos os riscos de antes e de agora.
Quem é consumidor vive sempre em alguma tensão, que alivia com o próprio consumo.

Mas, em SITUAÇÃO DE RESTRIÇÃO DE MOVIMENTOS, DE CONFINAMENTO, situação defensiva perante uma ameaça bem identificada ou desconhecida, é natural que aumente nas pessoas a ansiedade, e surjam reações emocionais desagradáveis, tensão, angustia, insegurança.
A solidão, a depressão, porventura a vivência de abandono e até medo tudo piora.
E, neste contexto pode ser esperado o aumento na procura e o aumento da oferta de substâncias psicoactivas.
O que está legalizado tem menos dificuldade em ser disponibilizado (oferta) aos consumidores (procura).
Alcool e tabaco e fármacos sedativos são substâncias legais muito acessíveis e muito consumidas.
Claro que as ”euforias” e as “grandes bebedeiras de rua”, bem visíveis nas noites comerciais, estão confinadas: não se vê este comportamento.
Mas há mais gente confinada em casa, a beber, agora com regularidade, bebidas com álcool: aperitivos, digestivos, destilados e vinhos e cervejas. E não era habitual tanto uso por estas pessoas. Nas redes sociais percebe-se que existe esse consumo.
Mas, se a situação de confinamento se prolongar no tempo, pode haver redução da oferta.  E se a oferta dessas substâncias for muito escassa, surge a redução da procura.

Mas, uma situação de excepção, de confinamento ou restrição, pode criar uma anomalia na normalidade consumista, e contribuir para que haja consumidores que ponham em causa o seu equilíbrio nesse consumismo.
E assim podem desejar criar alternativas a essa situação de desequilíbrio, reduzir ou até anular o consumo.
Mas, também podem surgir outras reacções, nomeadamente agravar o consumo ou, derivar para substâncias alternativas ou para comportamentos alternativos, com ou sem risco adictivo manifesto.  A derivação para o álcool é comum.

Há que reconhecer verdades nas realidades, em situação de confinamento:
a) o preço do que seja objeto de maior necessidade ou de mais desejo, tende a aumentar com ganho para poucos e prejuízo para muitos;
b) a sua qualidade tende a diminuir, aumentando os riscos para a saúde


NA CONFINAÇÃO NADA ESTÁ NA MESMA
Vejamos
COCAÍNAs . Para snifar, Branca. E para fumar, Cosida.
O consumo está muito mais aumentado, do que outrora, antigamente.
Mas, agora há:
·         Menos transportes, MAIS DIFICULDADE DE "OFERTA"
·         Mais CONSUMIDORES QUESTIONANDO a sua RELAÇÃO com a branca ou com a cosida.
·         Mais aflição, mais pedido de ajuda.
A "gulosa", cocaína, não é inocente. A coca é "gulosa" e com álcool tudo piora. Há muita derivação para consumo de álcool e de coca+álcool . Existe relação directa com a capacidade para “arranjar” cocaína, com queixas da quebra da qualidade. Obter branca “branca snifada”, depende dos locais. “Onde vivo é só ir ao lugar certo”.
Consumo de cocaína - A NOITE e as FESTAS
·         O confinamento que fechou estabelecimentos da noite, bares, casas de diversão, e até restaurantes, mudou o comportamento dos frequentadores. Consumidores, com mais dinheiro, não indo lá, lá não consomem a “branca snifada”, cocaína (cloridrato).
·         E não havendo mega festas ou festas privadas, não se juntam pessoas consumidoras.
·         Ficam-se mais pelo consumo individual no carro ou “doseado” e doméstico. E isso obriga a sair de casa, para buscar na rua ou ir ao bairro.
·         Mas, quem assumir expor-se mais (sem sair à rua), tem referências para encomendar e, recebe à porta da casa ou até onde vive.

SINTÉTICAS. Consumo de Sintéticas
Não havendo festas diminui o uso de substâncias sintéticas
Mas…. Esperamos pelo desconfinamento…

CANABIS. Erva e Haxixe
O consumo está muito mais aumentado que outrora, antigamente.
É ilegal, mas muito banal em Portugal. Consumo, em casa, na rua, nas festas, na escola, na universidade, etc. Qualidade?  DESCONHECIDA.
Agora, no confinamento … não abunda nos locais habituais. Por exemplo há doentes que me disseram que a Erva e Haxixe estão a preço de ouro. Mas, aqui em baixo não falta.

HEROINA
Não falta. Mas o consumo está muito mais reduzido que outrora, antigamente.

MEDICAMENTOS
Fármacos de abuso: aumento confirmado. Com e sem receita médica.

FALTA DE PROVISÃO DE MEDICAMENTOS NO TRATAMENTO
Aconteceu faltar medicamentos a doentes, por não terem acesso à consulta e até dificuldade ao telefonar para serviços.
Conheço recaídas em heroína relacionadas com a falta do tratamento com o medicamento opióide. Dois antigos doentes voltaram ao meu contacto, para desenrascar, por ter faltado, onde eram tratados, a resposta necessária.
Saliento que ao médico que o escuta, o doente que nele confia o que sente, não mente.

PREOCUPAÇÁO
PREOCUPAÇÁO PARA FUTURO PRÓXIMO
1.    Que socialmente não haja descuidos, nem pressas… em desconfinar.
O desconfinamento pode vir a trazer mais e mais riscos, SE NÃO FOR GRADUAL.
2.    A descompressão RÁPIDA PODE ORIGINAR AGRAVAMENTO DE COMPORTAMENTOS de risco para a saúde, com álcool e outras substâncias, riscos com sexo, jogo, compras, etc.
3.    Prevenir é educar BEM, informar e Precaver. Por exemplo face à cocaína e perante uma recaída… Se voltas "a riscar, começa com pouco e devagar".
Com heroína, para quem suspendeu, é idêntica a precaução.
Há importantes cuidados a ter e que importa esclarecer, para que se fique a saber.

Luís Duarte Patrício é autor do projecto pedagógico Mala da Prevenção
http://maladaprevencao.blogspot.com/
https://www.facebook.com/maladaprevencao.drluispatricio/
http://drogaparaquesaiba.blogspot.com/
Vídeos: https://www.youtube.com/user/psimedicina

Este foi o texto base, em curto tempo preparado e enviado ao JN

Nos Bilhetes postais já publicados, 1,2,3a, 3b e nos restantes a publicar este assunto está porventura mais elaborado.
Obrigado pelas leituras e eventuais partilhas.
https://www.facebook.com/maladaprevencao.drluispatricio/




1 - Droga de Confinamento e Comportamentos adictivos
Necessidades e efeitos das restrições no consumismo



2. O Confinamento e a procura e a oferta
de substâncias psicoactivas legalizadas

2.1 – TABACO em 2. O Confinamento e a procura e a oferta de substâncias psicoactivas legalizadas
2.1 – TABACO
Bilhetes Postais LP 3A e 3B

A continuar com textos e algumas fotos realizadas em dias de confinamento
Obrigado por ler
 Luís Patrício 

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