DROGA em PORTUGAL
A Prevenção, Tratamento, Recuperação
e Redução de Riscos que temos
e o que se disse "lá fora"
2009
2011
Cada cidadão fará a sua leitura.
Mas a situação que vivemos
decorre da Prevenção e Educação,
da autenticidade que temos vivido
nos anos precedentes
Depois de grandes e notáveis mudanças,
vieram outras mudanças, também na autenticidade.
E mesmo que haja poderes (temporários) que se revelem satisfeitos,
quem trabalha (permanentemente) no terreno
sabe bem a autenticidade do que se faz constar,
para o bem e para o menos bem.
Este texto está adaptado da entrevista ao jornal Açoriano Oriental de 15 de Junho 2015
vieram outras mudanças, também na autenticidade.
E mesmo que haja poderes (temporários) que se revelem satisfeitos,
quem trabalha (permanentemente) no terreno
sabe bem a autenticidade do que se faz constar,
para o bem e para o menos bem.
Este texto está adaptado da entrevista ao jornal Açoriano Oriental de 15 de Junho 2015
Para se
falar a verdade toda sobre a Prevenção temos que conhecer a formação dos
agentes de prevenção, saber quantos estão capacitados, a sua competência
técnica e pedagógica para intervir com crianças, adolescentes, adultos e
consumidores. Há profissionais esforçados com conhecimento e prática, e também há
desequilíbrios e assimetrias na qualidade. Qual é a verdade na selecção a nível
local, regional, nacional e internacional? Os assessores e colaboradores são
pagos pela competência técnica ou por conveniência politica?
A sedução para o consumo abusivo é enorme e a pedagogia para o consumo é quase
inexistente. A proporção da oferta e uso de álcool é inversa da prevenção do
mau uso. Quem está satisfeito com a recomendação “consumir com moderação”? O
que é isso?
E se antes dos 18 anos o consumo de álcool não se recomenda por motivos de
saúde, porque existiu em Portugal quase
durante 3 anos a lei que protegia a venda de cerveja e vinho a maiores de 16?
Que resultou desta lei e quantos consumidores se fidelizaram? Empurrar o
mau uso para a cultura e acusar quem vende fora da lei, é negar que falta responsabilidade
e Educação para a saúde.
Em Portugal iniciou-se há mais de 10
anos o abuso público de álcool, também por menores de idade. Vivida como modernidade e até promovida com o
apoio de autoridades, esta moda chegou
depois de ter acontecido em Espanha. Não soubemos, não pudemos ou não quisemos
prevenir?
São largos milhares os consumos de risco
em mega festas de Verão, de Inverno, de iniciação, de finalistas, pequenas e
grandes, em bares e na rua. São “normais” as intoxicações e intervenções de
emergência e graves os danos.
E face ao sucesso no consumo de tabaco
ficamos informados lendo a recomendação “Fumar mata” ou vendo imagens de danos?
Para o consumismo de comportamentos de
risco, é vantajoso que o consumidor tenha poucos conhecimentos sobre saúde:
mais incautos mais consumidores. Quem consome procura algum prazer e até o aliviar algum mal-estar, mas mal
informado é melhor manipulado.
Há quem defenda a ideia de que o consumidor é o responsável pelo
aparecimento da dependência, e o responsável pela solução do problema. Mas onde
estão os ensinamentos e a educação para saber viver na sociedade de ofertas de
comportamentos de risco?
No âmbito da redução de riscos após a notável melhoria no início do século, constatam-se perdas na quantidade e assimetrias na qualidade. Continuamos a não dispor de filtros para comprimidos, nem ampolas de naloxona, foi lamentável o desperdício de preservativos e é lamentável que continuemos sem facultar a quem se injecta, locais fixos ou móveis para consumo asséptico, como está previsto na lei desde 2001.
Em Portugal também foi uma vergonha a procura cega de substâncias sintéticas desconhecidas, o acesso a menores de idade e o consumo gerador de tanto sofrimento durante três anos de livre comércio, e ainda o que não se disse sobre este assunto…, agora muitíssimo mais reduzido, mas não resolvido. O md prolifera.
Em Portugal as estruturas da saúde continuam a não reconhecer a existência da especialidade, nem da sub-especialidade nem da competência técnica em patologias aditivas. Existe publicidade e há dezenas de serviços públicos e privados para a “prevenção e tratamento da droga”. Será uma droga de serviço um serviço onde não haja competências técnicas reconhecidas? Se a droga é um engano, assim podemos ser enganados.
No âmbito da redução de riscos após a notável melhoria no início do século, constatam-se perdas na quantidade e assimetrias na qualidade. Continuamos a não dispor de filtros para comprimidos, nem ampolas de naloxona, foi lamentável o desperdício de preservativos e é lamentável que continuemos sem facultar a quem se injecta, locais fixos ou móveis para consumo asséptico, como está previsto na lei desde 2001.
Em Portugal também foi uma vergonha a procura cega de substâncias sintéticas desconhecidas, o acesso a menores de idade e o consumo gerador de tanto sofrimento durante três anos de livre comércio, e ainda o que não se disse sobre este assunto…, agora muitíssimo mais reduzido, mas não resolvido. O md prolifera.
Em Portugal as estruturas da saúde continuam a não reconhecer a existência da especialidade, nem da sub-especialidade nem da competência técnica em patologias aditivas. Existe publicidade e há dezenas de serviços públicos e privados para a “prevenção e tratamento da droga”. Será uma droga de serviço um serviço onde não haja competências técnicas reconhecidas? Se a droga é um engano, assim podemos ser enganados.
E mesmo que o engano tenha origem nas
autoridades, não deixa de ser engano. Resta saber se autoridades são ingénuas,
engenhosas no uso das verdades e dos números ou, sabedoras e eticamente
respeitáveis.
Nos tempos actuais autoridade significa
mais o poder de usar o poder, ou a responsabilidade no bom uso do poder?
Recentemente um funcionário europeu disse-me
que não havendo especialistas os governos nomeiam peritos. Assim já acontecia antigamente e assim ainda
acontece.
O que existe nem sempre é o que se apregoa
existir, quer dizer que há truques e pode-se falar a verdade mas a verdade da
conveniência e não toda a verdade.
Uma
significativa campanha atribui a Portugal o grande sucesso relacionado com a
lei da descriminalização do consumo (2001). Nessa época já ninguém era preso
por consumir “droga”, há que dizer a
verdade.
Sem por em causa a necessidade de legalizar a descriminalização, nomeadamente para combater o estigma existente em algumas ou inúmeras cabeças que não trabalhavam com doentes, há que reconhecer onde, na realidade, esteve a grande mudança. Ou melhor dizendo, as grandes mudanças: o alargamento da rede de tratamento, incrementado desde 1987 e a lei de Redução de Riscos (2001) e suas aplicações,
O sucesso então alcançado na saúde relaciona-se de facto com a melhoria do
aceso ao tratamento, com acções decorrentes da lei da redução de riscos (2001),
intervenções na exclusão social, apoio psicossocial, programas de troca de
seringas, programas de metadona em baixo limiar, despiste de patologias associadas
e encaminhamento para tratamento.
Foi este o sucesso.
Mas infelizmente a assimetria
na qualidade dos serviços prestados tornou-se uma realidade...
No
âmbito dos tratamentos há realidades que são razões para preocupação.
·
Há
doentes, familiares e profissionais de saúde que continuam a relatar situações de
serviços “especializados”, públicos e privados, onde não existe médico, ou
médico com competência, ou onde há excesso de doentes sob responsabilidade de
um só médico, ou onde é insuficiente o tempo médico para os doentes.
·
Há
quem não tenha consulta médica durante meses, mas esteja medicado diariamente
com metadona ou receba a receita de medicamentos, o que permite compreender
melhor o mau uso de medicamentos e o desvio para o mercado negro.
·
Há
quem esteja mal medicado e vá mercado negro comprar medicação complementar.
·
Há
doentes insuficientemente medicados e que para se sentirem menos mal fazem
consumo de álcool ou de outras substâncias.
·
Há
consumidores de benzodiazepinas adquiridas com ou sem receita médica nomeadamente
de comprimidos de midazolam que injectam na veia depois de esmagados e diluídos
em água.
·
Há
doentes e familiares que dizem conseguir obter medicamentos sem a necessária
receita médica obrigatória.
·
Há
serviços em que, são ministrados fármacos sem existir consulta pelo médico (usurpação
de funções).
·
Há
quem não trate as doenças da pessoa, mas “trate a droga”..
·
Continua
a haver quem afirme ter estado internado em comunidades terapêuticas onde na
realidade não havia médico.
Há prisões, onde as carências e insucesso no
programa de políticas de redução de riscos foi e é uma vergonha.
É PRECISO MUDAR.
MUDAR O QUE NÃO ESTÁ BEM É POSSÍVEL E NECESSÁRIO.