terça-feira, 16 de junho de 2015

ALERTA PARA A FALTA DE QUALIDADE NA PREVENÇÃO E NO TRATAMENTO


ALERTA  PARA A FALTA DE QUALIDADE
NA PREVENÇÃO E NO TRATAMENTO

Sessão de Apresentação  Foto Sónia Pereira






A propósito do lançamento deste livro em Ponta Delgada

Muito agradeço ao IAC Açores, à sua Presidente Srª D. Cinelandia Cogumbreiro o apoio para esta iniciativa e à Srª Drª Rute Isabel Dias Gregório, Directora da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, o acolhimento e cedência do espaço.
Muito agradeço a quem muito devo, à Srª Prof Doutora Teresa de Medeiros por mais uma iniciativa na promoção do conhecimento, agora promovendo este evento, bem como a apresentação que tanto me honrou e ao colega e amigo Dr Adelino Dias a amizade na cuidadosa apresentação que fez e a sua iniciativa da escolha de casos reais, tão bem lidos pela Sr Enf. Daiane Mendonça a quem também agradeço.
Muito agradeço também ao músico que nos abraçou com seus sons, à Drª Sónia Pereira aos amigos e público que pode participar, bem como à RTP Açores pela sua participação
Naturalmente que agradeço ao jornal Açoriano Oriental pelo interesse manifestado através da Srª jornalista Ana Carvalho Melo, a quem também agradeço esta oportunidade de partilhar o que vejo, sinto e penso. Porque Não há machado que corte a raiz ao pensamento. Livre. Poema de Carlos Oliveira


O mais antigo jornal português. Fundado em 1835


Entrevista por Ana Carvalho Melo, Jornalista



Com o devido acordo, aqui coloco na totalidade as respostas e adiciono os meus destaques às questões colocadas pela Jornalista Ana Carvalho Melo
1. Este livro aborda uma temática bastante diversificada e sobre qual afirma que "procura desmitificar a droga e respostas inconsequentes, contribuindo para que, para além da verdade da conveniência se fale toda a verdade sobre a prevenção e intervenção em comportamentos aditivos e patologias associadas". Qual é essa verdade de que não se fala?
A situação que vivemos decorre da Prevenção e Educação que temos. Para se falar a verdade toda sobre a Prevenção temos que conhecer a formação dos agentes de prevenção, saber quantos estão capacitados, a sua competência técnica e pedagógica para intervir com crianças, adolescentes, adultos e consumidores. Há profissionais esforçados com conhecimento e prática, e também há desequilíbrios e assimetrias na qualidade. Qual é a verdade na selecção a nível local, regional, nacional e internacional? Os assessores e colaboradores são pagos pela competência técnica ou por conveniência politica?
A sedução para o consumo abusivo é enorme e a pedagogia para o consumo é quase inexistente. A proporção da oferta e uso de álcool é inversa da prevenção do mau uso. Quem está satisfeito com a recomendação “consumir com moderação”? O que é isso?
E antes dos 18 anos o consumo de álcool não se recomenda por motivos de saúde, porque existiu em Portugal quase durante 3 anos a lei que protegia a venda de cerveja e vinho a maiores de 16? Que resultou desta lei e quantos consumidores se fidelizaram? Empurrar o mau uso para a cultura e acusar quem vende fora da lei, é negar que falta responsabilidade e Educação para a saúde.
Em Portugal iniciou-se há mais de 10 anos o abuso público de álcool, também por menores de idade. Vivida como modernidade e até promovida com o apoio de autoridades, esta moda chegou depois de ter acontecido em Espanha. Não soubemos, não pudemos ou não quisemos prevenir?
São largos milhares os consumos de risco em mega festas de Verão, de Inverno, de iniciação, de finalistas, pequenas e grandes, em bares e na rua. São “normais” as intoxicações e intervenções de emergência e graves os danos.
E face ao sucesso no consumo de tabaco ficamos informados lendo a recomendação “Fumar mata” ou vendo imagens de danos?
Para o consumismo de comportamentos de risco, é vantajoso que o consumidor tenha poucos conhecimentos sobre saúde: mais incautos mais consumidores. Quem consome procura algum prazer e até o aliviar algum mal-estar, mas mal informado é melhor manipulado.
Há quem defenda a ideia de que o consumidor é o responsável pelo aparecimento da dependência, e o responsável pela solução do problema. Mas onde estão os ensinamentos e a educação para saber viver na sociedade de ofertas de comportamentos de risco?
Em Portugal as estruturas da saúde continuam a não reconhecer a existência da especialidade,nem da subespecialidade nem da competência técnica em patologias aditivas. Existe publicidade e há dezenas de serviços públicos e privados para a “prevenção e tratamento da droga”. Será uma droga de serviço um serviço onde não haja competências técnicas reconhecidas? Se a droga é um engano, assim podemos ser enganados.
E mesmo que o engano tenha origem nas autoridades, não deixa de ser engano. Resta saber se as autoridades são ingénuas, engenhosas no uso das verdades e dos números ou, sabedoras e eticamente respeitáveis.
Nos tempos actuais autoridade significa mais o poder de usar o poder, ou a responsabilidade no bom uso do poder?
Recentemente um funcionário europeu disse-me que não havendo especialistas os governos nomeiam peritos. Assim já acontecia antigamente e assim ainda acontece.
O que existe nem sempre é o que se apregoa existir, quer dizer que há truques e pode-se falar a verdade mas a verdade da conveniência e não toda a verdade.
Uma significativa campanha atribui a Portugal o grande sucesso relacionado com a lei da descriminalização do consumo (2001). Nessa época já ninguém era preso por consumir “droga”, há que dizer a verdade. O sucesso então alcançado na saúde relaciona-se com a melhoria do aceso ao tratamento, com acções decorrentes da lei da redução de riscos (2001), intervenções na exclusão social, apoio psicossocial, programas de troca de seringas, programas de metadona em baixo limiar, despiste de patologias associadas e encaminhamento para tratamento. Foi este o sucesso. Mas infelizmente a assimetria na qualidade dos serviços prestados tornou-se uma realidade em Portugal continental e também nos Açores.
No âmbito dos tratamentos há realidades que são razões para preocupação.
·         Há doentes, familiares e profissionais de saúde que continuam a relatar situações de serviços “especializados”, públicos e privados, onde não existe médico, ou médico com competência, ou onde há excesso de doentes sob responsabilidade de um só médico, ou onde é insuficiente o tempo médico para os doentes.
·         quem não tenha consulta médica durante meses, mas esteja medicado diariamente com metadona ou receba a receita de medicamentos, o que permite compreender melhor o mau uso de medicamentos e o desvio para o mercado negro.
·         quem esteja mal medicado e vá mercado negro comprar medicação complementar.
·         doentes insuficientemente medicados e que para se sentirem menos mal fazem consumo de álcool ou de outras substâncias.
·    consumidores de benzodiazepinas adquiridas com ou sem receita médica nomeadamente de comprimidos de midazolam que injectam na veia depois de esmagados e diluídos em água. Há quem, mal medicado, injecte comprimidos de buprenorfina que são para uso sub lingual.
·         Há doentes e familiares que dizem conseguir obter medicamentos sem a necessária receita médica obrigatória.
·     Há serviços em que são ministrados fármacos, sem existir consulta pelo médico (usurpação de funções).
·         Há quem não trate as doenças da pessoa, mas “trate a droga”. A Patologia Dual não está a ser bem tratada.
·         Continua a haver quem afirme ter estado internado em comunidades terapêuticas onde na realidade não havia médico.
No âmbito da redução de riscos após a notável melhoria no início do século, constatam-se perdas na quantidade e assimetrias na qualidade.
Continuamos a não dispor de filtros para comprimidos, nem ampolas de naloxona, foi lamentável o desperdício de preservativos e é lamentável que continuemos sem facultar a quem se injecta, locais fixos ou móveis para consumo asséptico, como está previsto na lei desde 2001.
prisões, onde as carências e insucesso no programa de políticas de redução de riscos foi e é uma vergonha.
Em Portugal também foi uma vergonha a procura cega de substâncias sintéticas desconhecidas, o acesso a menores de idade e o consumo gerador de tanto sofrimento durante três anos de livre comércio e ainda o que não se disse sobre este assunto…
2.  Em termos de politicas públicas na prevenção do consumo que avaliação destes 30 anos?
Em Portugal, no continente destaco o significativo progresso desde a segunda metade dos anos oitenta até 2001, a estagnação e retrocesso até 2004, o aparecimento de assimetrias na qualidade dos serviços desde 2006 e o crescente desinvestimento na qualidade desde 2008.
Muitos profissionais saíram dos serviços.
O entusiasmo da militância de outrora acabou. Nos últimos anos muitos confirmam a desmotivação. 
Também há quem tenha um sorriso amarelo engraxado para segurar o lugar e porventura mais algum dinheiro da comissão de serviço.
No continente constatamos a concordância e satisfação de quem cria e dirige face a quem executa as politicas decididas. Mas é sinal de fraqueza e desespero, tapar as insuficiências e os erros passados afirmando que não estamos tão mal como os outros.
Na RAA a prestação de cuidados de qualidade de Prevenção e Tratamento também contínua carente de atenção e de mais competência.
A melhoria necessária passa pela política de âmbito local, onde as pessoas se conhecem.
Foi recentemente divulgada a politica para estimular a intervenção dos médicos nos centros de saúde. Em articulação com os serviços de saúde mental esta política deve ser muito apoiada para que haja a necessária resposta com competência ao nível local.
Nos Açores e por conhecimento directo destaco nas anteriores administrações a intervenção pioneira do Dr. Francisco Coelho e do Enf. Fernando Melo, no estímulo a todos os centros de saúde e hospitais, do Dr. Domingos Cunha e do prof Francisco Valadão. Pena foi que muito desse investimento se tenha perdido.
No terreno destaco a persistência da intervenção e a seriedade e qualidade do Dr. Adelino Dias na clinica e na formação de jovens médicos, o trabalho pioneiro na Povoação. E destaco o enorme investimento da Prof Doutora Teresa Medeiros na formação universitária nos cursos de psicologia e no CET.
3. Quais as sugestões para intervirmos de forma mais positiva sobre esta problemática?
É preciso abandonar o estribilho álcool tabaco e droga, o chavão drogas legais e drogas ilegais. O cérebro humano não discrimina se a substância consumida é legal ou ilegal no país onde é usada.
Mas o consumidor prevenido, educado, pode perceber através do seu cérebro, se o comportamento, a substância que usa e que provoque prazer, é ou não boa, legal para a sua saúde e bem-estar individual, familiar, social, comunitário e ambiental.
A Prevenção, a promoção da Educação para a saúde e bem-estar, e a promoção da Educação Cívica, deve ser uma forma de cultura que ajude a robustecer o cidadão para se defender de comportamentos de risco e seu consumismo.
Há quem precise de aprender a aprender, de aprender a pensar. Há quem necessite de aprender a escolher, para que possa fazer boas escolhas.
É preciso bem informar para formar bem.
Certamente que no futuro haverá outras atitudes faca ao consumo e ao prazer, mas isso irá exigir muito mais conhecimento, mais saber e responsabilidade, como procuro explicar neste livro, com a participação de amigos e de colegas de vários países.

E aqui recoloco os destaques que escolhi para a capa do livro, com frases escritas por amigos e colegas a quem tanto agradeço.






sábado, 13 de junho de 2015

SEDUÇÃO PARA O CONSUMO de TABACO

 SEDUÇÃO PARA O CONSUMO de TABACO
O consumo de tabaco nas ruas tornou-se uma realidade reforçada pela lei que penaliza o seu consumo em espaços fechados. A lei terá sido criada para procurar reduzir a procura do consumo de fumo de tabaco.

Mas na realidade a sedução para o consumo mantém-se e aperfeiçoa-se.
A necessidade de consumir, por prazer ou por outras razões é uma realidade para muitos consumidores.

A necessidade de aumentar o conhecimento e assim promover a saúde é um dever de quem responsabilidades na Educação e na Saúde.

Aqui deixo para sua leitura o texto que escrevi em Maio de 2010 para o programa Causas Públicas, da RTP Antena1, que fiz com Filomena Crespo.


AINDA O TABACO E SEDUÇÃO PARA O CONSUMO

O consumo de tabaco continua a merecer a atenção dos ouvintes interessados em saber mais sobre este produto de consumo
Vamos continuar a reflexão sobre a promoção do consumo de fumo de tabaco.

Para muitas pessoas a produção de fumo de tabaco ainda está na moda ou é uma banalidade divulgada por familiares que consomem, divulgada por amigos que consomem e divulgada pela publicidade especializada.

Quando pensamos na relação de pessoas jovens com o consumo de tabaco, não podemos desvalorizar esse comportamento, e será um enorme disparate dizer que se trata apenas de uma brincadeira de crianças ou adolescentes.

A maioria dos consumidores dependentes inicia-se no consumo do fumo do tabaco antes dos 18 anos. E sabemos bem que a dependência de tabaco é um assunto muito sério para a saúde.

Sabendo-se o que já se sabe, ainda há pessoas jovens que aderem a este comportamento: consumir fumo de tabaco.

Há quem comece sozinho nas novas experiências e na criação de hábitos, mas temos que reconhecer que a força do efeito do grupo, pode ser muito grande.
É um grande reforço o que se faz no grupo, o efeito do consumo em grupo.  
Assim acontece com as experiências com tabaco e com outras substâncias psicoactivas.

Um adulto recorda facilmente situações da juventude em que sentiu a força do efeito de grupo, perante determinadas escolhas.

Os adultos consumidores de tabaco podem facilmente recordar o que se passou na sua adolescência, quando se iniciaram, sem desejar ficar dependentes.

Ao pensarmos na vivência da adolescência também temos que valorizar a importância do comportamento do melhor amigo.

Numa pessoa que esteja a viver um período de mudança e de adaptação, aumenta de forma significativa a importância de quem é significativo, a importância do seu melhor amigo.

Isso significa pois que os interesses dos amigos podem influir nos nossos comportamentos?

É claro que os hábitos do melhor amigo podem atrair-nos.
Quem tem amigos que fumam, quem viu ou quem vê os pais a fumar, ou quem vê os irmãos mais velhos a fumar estará mais susceptível para aceitar semelhante comportamento.

Assim a educação para a saúde deve ser feita desde que a criança compreende o que é a higiene.
A boa receptividade da informação e da formação na defesa da saúde, na promoção da saúde, deve ser feita regularmente e adequadamente durante a infância e até à pré adolescência.

Mas junto de adolescentes, em plena fase de descoberta, pode não ser muito útil apenas divulgar os danos causados pelo consumo de tabaco.

Muitos adolescentes até desejam correr riscos e o consumo pode ser uma forma de afirmação, de identificação e uma forma de fazer a integração junto de outros consumidores.

O consumo de tabaco não é inocente.
O facto de se fumar activamente pode provocar no consumidor efeitos sentidos como gratificantes e agradáveis.

A percepção do agradável e do gratificante pode estar associada aos rituais e até à exibição de fumar.
Mas também pode estar associada aos efeitos psicoactivos provocados pela absorção dos produtos da queima do tabaco.

No início do consumo de tabaco, a relação com o cigarro tem uma significativa força psicológica e mais tarde uma enorme carga bioquímica.

Apesar dos efeitos desagradáveis do fumo a pessoa iniciada pode insistir nessa atitude, como sendo a prova a superar, para confirmar que é capaz de fazer como os outros que fumam.

Sente-se reconhecido por fazer como os outros, valoriza a forma como pega no cigarro, a forma de o acender mesmo que por vezes faça triste figura tossindo e lacrimejando.

Em plena puberdade, durante a adolescência os interesses são outros, porventura opostos á saúde. Muitas vezes trata-se de um desafio, um teste aos limites.
Assim, a estratégia terá que ser outra.
Por isso, para além de ajudar a conhecer melhor os desgastes na saúde provocados pela poluição com o fumo do tabaco, há que ajudar a perceber como somos levados para esse consumo, como o consumidor é usado ou manipulado na relação com o cigarro.

De facto o consumidor é usado para manter a cadeia de produção de tabaco como se fosse um bem de primeira necessidade.
O consumidor é o centro dessa cadeia de interesses da indústria e do comércio de tabaco contrários aos interesses da sua saúde.

Temos que salientar que a publicidade seja explícita ou seja indirecta ou subliminar, tem por objectivo seduzir pessoas para o consumo.

O tabaco é apresentado de modo a que o provável consumidor o veja como um bem que pode promover a sua imagem, algo de bom e sempre agradável para a sua pessoa.

Seduz mais as pessoas que num momento do percurso da sua vida, estão mais disponíveis para fazer experiências de consumo. 
Dessas pessoas destacam-se os adolescentes, as mulheres e até crianças pré-adolescentes.
Perante estas situações, importa ajudar a perceber que a ceder ao apelo da publicidade que promove o consumo, sendo péssima para o futuro da saúde do consumidor, é muitíssimo importante para quem fabrica tabaco.
Por isso, para seduzir, fazem-se promessas de reforço de dotes masculinos ou de dotes femininos.
Talvez por isso os jovens e as mulheres são alvos prioritários na publicidade.