sábado, 12 de maio de 2012

COMPETÊNCIA – 2ª parte


COMPETÊNCIA – 2ª parte

Reconhecimento da competência em Portugal

Competência em Aditologia: precisa-se

Por Luís Duarte Patrício
Medico Psiquiatra, Chefe de Serviço por provas públicas

O futuro já começou
Outrora
Pelo mundo fora, durante muitos anos o tema das drogas não era assunto de saúde. Era um assunto reservado para a Moral. Os serviços de saúde não cuidavam deste tema, nem tão pouco os da saúde mental. Assim aconteceu pelo Mundo, pela Europa e também em Portugal.
Desde os anos sessenta do século passado, o consumo de risco, o consumo abusivo de substâncias aumentou significativamente.
A ciência também evoluiu e a “droga” passou a ser objecto de outra atenção e no âmbito da saúde os serviços tiveram que se adaptar.
Em Portugal, surgiu em 1973 a primeira consulta para Adolescentes e toxicodependentes no Hospital de Santa Maria, Lisboa (Prof Dias Cordeiro). Mais tarde é criada também uma consulta no Porto, no Hospital de São João, (Prof Pacheco Palha).
E em 1977 foram criados os CEPD, Centro de Estudos e Profilaxia da Droga, em Lisboa, Porto e Coimbra estruturas que estiveram muitos anos na tutela do Ministério da Justiça. Estes serviços também prestaram algumas actividades no âmbito da formação de médicos. Recordo em 1986, no CEPD de Lisboa, o pioneiro curso de formação (Prof Domingos Neto), em que também pude colaborar como formador.
Também em Portugal, nos anos 80, foi feito pelo Instituto de Clinica Geral e para os médicos de Clinica Geral, um importante esforço “obrigatório” de actualização em Adolescência e incluindo as Toxicodependências, no qual também foram formadores, médicos do Hospital de Santa Maria, Serviço de Psiquiatria, Equipa da Consulta de Adolescentes e Toxicodependentes, chefiada pelo Dr Nuno Miguel e onde trabalhei até á criação do cCentro das Taipas (1987).
Em 1987, foi criado o primeiro serviço do Ministério da Saúde específico para tratamento de doentes ditos toxicodependentes. Foi o Centro das Taipas em Lisboa. Isto aconteceu há 25 anos.
Ness casa sempre foram bem recebidos profissionais portugueses e estrangeiros, nomeadamente jovens médicos da carreira da especialidade, para fazerem o seu estágio integrado na carreira ou voluntário, reconhecido e clandestino (um dia explicarei essa realidade aos interssados). O importante é que sempre houve esse interesse e colaboração de parte a parte.
No âmbito da formação na Especialidade de Psiquiatria outrora eram muito poucos os médicos internos que frequentavam serviços com intervenção em Aditologia. Se os serviços de Alcoologia eram apesar de tudo mais usados para a formação dos mais jovens, os da “Droga” eram muito menos frequentados.  Apesar de tudo esta separação produzia efeitos... e socialmente segurava clivagens. O álcool nem era droga.
Claro que no âmbito da formação houve excepções em alguns serviços de diversos pontos do país e neste contexto estou muito à vontade por tudo o que foi feito regularmente e durante muitos anos no Centro das Taipas, e que continua ainda a ser feito com os actuais recursos existentes no país.
Mas, há que reconhecer que as assimetrias não garantem a qualidade.
Em Portugal houve estágios de jovens médicos realizados em estruturas de tratamento de doentes dependentes de substâncias, onde não se realizava a apresentação regular e discussão de casos clinicos.

Agora

Mas, apesar de algumas assimetrias existentes na formação, há em Portugal continental e nas regiões autónomas, médicos jovens, psiquiatras, pedopsiquiatras e clínicos gerais, que receberam e são possuidores de alguma ou de bastante formação em Aditologia .
Atentos e observadores, os médicos jovens podem continuar a aprender como agir ou reagir ante o consumismo que submergiu o pensamento e a prática de vida de uma boa parte da sociedade e até alguns dos seus membros, pais, tios e avós.
Será certamente esta nova geração, mantendo uma actualização permanente, quem poderá fazer a diferença no futuro. Muitos destes jovens já estão mais distantes dos mitos, da contra atitude e dos compromissos de gerações anteriores e dos herdeiros dessas formas de pensar.

Muitos jovens médicos internos ficaram a saber mais sobre Aditologia

Internos de Psiquiatria do Norte, na formação realizada por iniciativa do Prof Doutor Manuel Esteves no Serviço de Psiquiatria do Hospital de São João. Foto LP
1. Não dizem drogas, dizem substâncias psicoactivas.

2. Deixaram de dizer álcool, tabaco e droga, para dizerem substâncias psicoactivas legais e ilegais.

3. Deixaram de dizer drogas leves e drogas pesadas para dizerem, estimulantes, perturbadores e sedativos.
4. Deixaram de dizer que o álcool é bom para a saúde a mau para os alcoólicos.

5. Deixaram de dizer que os medicamentos são drogas, para dizerem que são fármacos e que há o bom e mau uso de fármacos.
Formação da APIP, Associação Portuguesa de Médicos Internos de Psiquiatria
Colaboração com a UD Centro das Taipas (Drª Luisa Mendes e Drª Esther Casado).  Foto LP
6. Deixaram de dizer que a metadona é uma droga, ou que a buprenorfina é uma droga, para dizerem que são medicamentos opióides de síntese, para serem bem usados sempre sobre critério médico, podendo assim ser uma excelente ajuda no tratamento de doentes dependentes de heroína e no tratamento de doentes com dor crónica.

7. Passaram a dizer que a metadona é um opióide agonista total dos receptores opióides, e que a buprenorfina é um opióide agonista parcial dos receptores opióides e que a naltexona é um opióide antagonista dos receptores opióides e que o tratamento deve durar enquanto for útil para o doente.

8. Perceberam que a desintoxicação verdadeira afinal só acontece se fisicamente existe uma situação clinica de intoxicação ou sobredose.


9. Perceberam que o acto que tem sido chamado de “desintoxicação”, é afinal o tratamento de uma síndroma de privação e não é a “limpeza da droga com soro”, uma burla que às vezes se anuncia e que ainda se comercializa.

Presidente da APIP, Dr Lucas Manarte. Foto MS
10. Perceberam que a grande maioria dos doentes (mais de 80%) que fazem a “desintoxicação” melhor dizendo a desabituação física, recaem no consumo de abuso antes do período de um ano, e que é obrigatório pensar se para um doente numa situação em concreto, essa proposta de intervenção é de facto a melhor proposta para o tratamento.

11. Perceberam que com muita frequência existe nos consumidores de substâncias outra perturbação psiquiátrica associada ao consumo dessas substâncias, e a outros comportamentos de risco para a saúde.

12. Perceberam que essa outra perturbação associada pode surgir antes, durante ou após os consumos ou a prática de outros comportamentos de risco.

13. Perceberam que se essa psicopatologia não for tratada a recidiva é muito mais frequente e aumenta o desperdício de oportunidades terapêuticas.

14. Perceberam que ninguém pode garantir a cura da patologia aditiva, mas que o tratamento é possível e a ruptura com o consumo também é possível, e que é possível deixar a vivência da dependência e tratar a patologia associada.

15. Perceberam que as teorias são importantes para a compreensão e que o pragmatismo é importante para a acção.
 Internos de Psiquiatria do Norte  participantes na formação da iniciativa da Drª Lucinda Neves. Viana do Castelo 2010. Foto LP
16. Perceberam que o dependente pode viver num equilíbrio instável com o consumo e que muitas vezes é real a ambiguidade do doente em deixar de consumir, e que para o dependente o consumo é um breve reencontro com esse equilíbrio breve e instável.

17. Perceberam que trabalhar em Aditologia não é fácil, até porque estamos diariamente confrontados com algumas frustrações. Mas também perceberam que recebemos o reconhecimento, a recompensa, de muitos doentes e envolventes. O profissional pode e deve valorizar no doente as melhorias, as mudanças para melhor.

18. Perceberam que nunca sabemos tudo, e que por saberem mais sobre esta matéria, e por estarem actualizados, podem incomodar quem saiba menos do que eles e detenha algum outro poder.

19. Perceberam que por ajudarem estes doentes que sofrem de patologia aditiva, podem incomodar quem não gosta destes doentes.

20. Perceberam que nessa área, em Portugal como em muitos outros países, há muita gente que intervém “na droga”, não pela competência que não adquiriram, mas pela nomeação e complacência que lhes foi oferecida.

21. Perceberam que a sociedade do consumismo robotiza os consumidores desprevenidos ou ignorantes, para que consumam mais e mais, e para que pensem cada vez menos no acto de consumir.

22. Perceberam como é despudorado o mau uso de substâncias psicoactivas legais e ilegais, como é grande a ignorância dos consumidores e até de alguns intervenientes sociais.

23. Perceberam quanto é importante ensinar aos cidadãos, que as substâncias psicoactivas não são todas iguais na sua agressividade para o Sistema Nervoso Central.

24. Perceberam quanto é importante ensinar aos cidadãos o álcool é uma substancia estranha para o organismo do ser humano, que é forçado a fazer uma adaptação à sua presença e que o mau de etanol prejudica sempre a saúde.

25. Perceberam quanto é importante ajudar os cidadãos a reconhecer que há consumidores que conseguem manter uma relação com as bebidas com álcool fora do patamar de risco, mas que em Portugal, a maioria dos consumidores, seja por hábito cultural, ou por falta de actualização da informação, ou por ignorância, fazem consumos no patamar do risco.

26. Perceberam quanto é importante informar os cidadãos de que não existe qualquer garantia de efeitos ou de qualidade com o consumo das chamadas “drogas legais”, vendidas em lojas ou por internet e mais acessíveis ao público português desde 2010.


Dr Licínio Santos. Funchal 2012 - Foto de LP

27. Perceberam quanto é importante estar preparado para acolher e tratar doentes consumidores destas substâncias, nomeadamente os que sofrem de graves perturbações psicóticas, que põem em risco a sua segurança e bem-estar e a segurança e bem-estar de outras pessoas.

28. Perceberam que a liberdade do pensamento e que a responsabilidade pela gestão da saúde face ao consumo de substancias,  são bens que o Homem não deve alienar.

29. Perceberam que boa parte dos “males na saúde” não é da responsabilidade dos doentes, nem apenas de políticas desajustadas, mas também de profissionais, nomeadamente de médicos, pelo que fazem, como o fazem e… pelo que não fazem. Há muitos que já sabem bem como fazer e bem feito.

Dr Álvaro Manito, Dr Ivo Soares, Drª Carmina Pais
                                                                                     
                                                                                        Drª Mercês Maciel
Formação para os Centros de Saúde da Madalena, S Roque e Lages do Pico 2007 Foto LP

Funchal 2011 Foto LP

30. Perceberam que é grande a sua responsabilidade médica nos cuidados ao doente. Apesar das invejas, e doa a quem doer, quando estamos doentes, o que mais queremos á a ajuda de um Médico e… por favor que seja competente na matéria. E sempre que tal acontece quem é educado agradece a sugestão: pela ajuda recebida, muito obrigado.

Para amanhã e…

Para valer 

Urge que a Ordem dos Médicos consiga finalmente criar a Competência em Aditologia

Quem procurar nas publicações da Ordem dos Médicos, pode encontrar algumas reflexões de médicos, que exercem a profissão também no âmbito de Aditologia. E essa é uma evidência da sua responsabilidade nesta área.
Ao longo das últimas décadas foram feitas alguns esforços para a criação de uma subespecialidade em Aditologia ou no mínimo o reconhecimento da Competência em Aditologia.

Pessoalmente, fizemos regularmente muitas intervenções de âmbito nacional e internacional promovendo a formação, antes da criação do Centro das Taipas, durante os 25 anos na instituição, e fora dela como aconteceu na Associação Nacional de Intervenientes em Toxicodependência, em T3E, na ERIT, no Europad, ou em outras estruturas.

Muitos dos que colaborámos, temos consciência que partilhámos o saber com muitos profissionais e que também incomodámos alguns. Mas só não incomoda quem não faz…

Alguns tentaram criar a competência em Aditologia, tentámos que isso acontecesse, mas esse objectivo ainda não foi conseguido. Recordo com saudade a actividade em outros tempos, nomeadamente o serão aqui em casa, com o Dr. Luis Gamito e com a Prof Luísa Figueira e outros colegas que então estavam no mesmo caminho.

Em minha opinião é muito importante que a Ordem dos Médicos de Portugal procure criar condições para um debate e entendimento entre médicos, que ultrapasse atitudes reactivas ou até talvez de inveja, comportamentos que apesar de reconhecidamente humanos impedem o reconhecimento e desenvolvimento da competência em Aditologia.

Assim, cada médico que o deseje pode aumentar o conhecimento, garantir e exigir mais qualidade profissional em Aditologia, para melhor servir os doentes e suas famílias.

A Competência aumenta o saber e defende a honra dos médicos praticantes de Medicina.
Estou certo que é este o pensar de três ilustres colegas, responsáveis na nossa Ordem
Prof José Silva,
Ilustre Bastonário a quem cumprimento pela habitual intervenção com elevada dignidade e verticalidade
Prof Marques Teixeira
Presidente do Colégio a quem envio um abraço e um obrigado pelo respeito e amizade que tenho recebido
Dr Jorge Câmara
Colega a quem envio um abraço de gratidão por uma grande amizade e colaboração de mais de 20 anos na prática clinica, desde o Hospital da Santa Maria ao Centro das Taipas. 
No Dr Jorge Câmara quero destacar a enorme competência, elevada seriedade, permanente lealdade e sua grande dignidade. Por tudo isto que é muitíssimo, a minha gratidão. Bem-hajas.

Porque também recebi educação, agradeço a cada leitor ter lido este texto.
Se lhe parecer adequado agradeço que o divulgue.

Bem-haja
Luís Duarte Patrício
Médico inscrito na Ordem dos Médicos
Nº 15 832

: Tenho orgulho em ter trabalhado, desde a década de oitenta com médicos internos da especialidade de Psiquiatria e de Clinica Geral e tenho muita satisfação por continuar a fazê-lo, sempre que surge a oportunidade.
 PS

A nova linguagem, os conceitos contemporâneos em Aditologia também já são reconhecidos naturalmente por muitos dos médicos mais experientes que souberam actualizar-se. Em minha modesta opinião, esse também é um bom caminho, um bom contributo para a necessária melhoria permanente na qualidade dos serviços prestados em Portugal.











domingo, 6 de maio de 2012

COMPETÊNCIA – 1ª parte


COMPETÊNCIA – 1ª parte

Reconhecimento da competência em Portugal

Competência em Aditologia: precisa-se



Por Luís Duarte Patrício
Médico Psiquiatra
Chefe de Serviço por provas públicas

Todos sabemos como a linguagem pode confundir

Em Portugal não há médicos especialistas na área a que se chamou de Toxicodependências, não existe essa especialidade médica. Repare-se como a expressão Toxicodependências deixa de fora os consumidores que não estão dependentes, isto é, os consumidores ocasionais ou regulares, melhor esclarecendo os consumidores toxico independentes.

E a bem dizer, em Portugal “há muita droga”, ou melhor e pensando bem, muita substancia psicoactiva legal e ilegal e muitas atitudes de droga de mau uso, abuso e dependência patológica. E note-se que a palavra droga tem vários significados, um dos quais é bagatela, coisa sem valor, ou até o que não presta.

Pensando deste modo, droga é uma expressão que engana e por isso digo que não há droga. Afirmo que o que há, isso sim, é um elevado número de substâncias psicoactivas, legais ou ilegais, antigas ou modernas, naturais ou sintéticas, nacionais ou estrangeiras, etc, etc.

E se assim for compreendido afirmo que não há droga: há substâncias. Assim, em boa verdade droga é a atitude de as usar mal, de as usar com risco e danos para a saúde individual, familiar e social. Droga pode ser ainda a atitude de nos deixarmos enganar.

Sabemos como a linguagem pode confundir as pessoas, como por exemplo dizendo álcool, tabaco e drogas, dizendo estupefacientes, entorpecentes, narcóticos, como se as palavras atribuídas a substâncias de uns ou de outros grupos, significassem a mesma coisa. Todos sabemos que substâncias diferentes produzem efeitos diferentes no sistema nervoso central de quem as consome.

É impensável haver uma casa, um país sem substâncias psicoactivas, isto é aquilo a que algumas pessoas insistem em chamar de “droga”.

Numa terra civilizada, existem substâncias naturais ou sintéticas, desde a acetona, o álcool, a cafeína, a nicotina, a gasolina, o éter e outros solventes e diluentes, os sedativos, e tantas mais substâncias.

Para quem tenha dúvidas convido a que leia no Diário da República as substancias que estão identificadas na tabela da lei portuguesa: tudo isso é considerado “droga”.

Uma droga de atitude será é considerar as substâncias psicoactivas como droga, forma de beatificar umas substâncias e de diabolizar outras, substâncias legais e ilegais cujo mau uso sempre prejudica a saúde de quem as consome e o bem-estar dos seus envolventes.

Nunca é demais repetir a ideia de que mais do que as substancias, droga é a atitude de as usar mal, com risco desnecessário e dano consequente.

Não será fácil mudar de representações, mas mantendo na nossa ideia e nas nossas casas conceitos que temos tido, drogas leves e pesadas, naturais e sintéticas, químicas e ecológicas, etc., continuamos na mesma.

E continuando as sociedades a reagir da mesma forma incompleta e ao lado, tudo continuará na mesma.

Em minha modesta opinião, neste mundo globalizado, submergido pelo predomínio do modelo social do consumismo precisamos de mais capacidade antecipatória, de aumento da exigência e competência educativa e preventiva, de gente ainda mais competente e de mais profissionais competentes.

Apesar do desejo e do esforço de alguns profissionais, apesar desses esforços já ensaiados mas até agora ainda insuficientes, em Portugal continua a não haver a competência em Aditologia.

A Aditologia, a patologia aditiva é uma das áreas da Saúde Mental ainda que possa haver quem insista em não o reconhecer por falta de conhecimento ou quem sabe por outros interesses.

Mas quem observar de boa-fé percebe que os comportamentos aditivos, estão relacionados com sofrimento psíquico, estando relacionados com as causas e/ou com as consequências.

As patologias aditivas e outra comorbilidade psiquiátrica são temas que desde há muitos anos merecem a atenção e preocupação de quem é profissional de saúde e diariamente trabalha na actividade clinica. E estes temas continuam actuais.

Psiquiatras, pedopsiquiatras, médicos de clinica geral e familiar, médicos internistas, ginecologistas e obstetras, pediatras, pneumonologistas, infeciologistas, gastroenterologistas, hepatologistas, estomatologistas, cirurgiões, oftalmologistas, ortopedistas, neurologistas, e até urologistas entre muitos outros profissionais, são especialistas que para não prejudicar os doentes têm obrigação de ter um mínimo de conhecimentos sobre abuso de substâncias psicoativas, sejam legais e ilegais e sobre outros comportamentos de risco para a saúde.

E os profissionais que desejam ajudar os doentes e suas famílias, têm que ter um máximo de conhecimentos e deformação para contribuirem para a prevenção das doenças e para o tratamento da pessoa que adoeceu na sequência do uso, do consumo de comportamentos de risco, com ou sem substância psicoactiva legal ou ilegal.

Os profissionais de saúde têm hoje ao seu alcance muitos mais conhecimentos, sobre comportamentos de risco para a saúde e dependências patológicas, do que dispunham há 50 anos.

A ciência continua a evoluir e é nossa obrigação reconhecer entre nós, o mérito dos pioneiros e agradecer-lhes a partilha dos seus conhecimentos.

Neste âmbito recordo com satisfação o início da minha actividade no Hospital Distrital de Portalegre (1977) no Centro de Saúde Mental de Portalegre (Dr. Francisco Pólvora) e na Consulta de Adolescentes e Toxicodependência (Prof Dias Cordeiro e Dr. Nuno Miguel) do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria (Prof Pedro Polónio) (1980).

Claro que deste então até ao dia de hoje sempre procurei actualizar-me e partilhar o conhecimento. Importa aprender mais, insistir no intercâmbio, na partilha: parar é que não é caminho.


Da infância à 4ª idade

Quem quiser promover a Educação e a Prevenção de comportamentos de risco para a saúde física, psíquica, familiar e social, deve pensar sem hesitações nos benefícios de o fazer com seriedade, atenção, cuidado e energia.

Em minha opinião, a promoção da saúde deve ser feita com rigor e, nomeadamente desde a infância pelo menos até à pré-adolescência e adolescência. E importa salientar os benefícios em manter esse acompanhamento durante à idade adulta, benefícios em fazer a revisão da matéria durante a maturidade e em fazer o discreto acompanhamento durante a 3ª e 4ª idade.

Claro que toda esta actividade exige muito esforço, trabalho e não acaba durante o tempo útil de uma campanha, nem durante o tempo útil de qualquer actor social.

Mas os benefícios para o Homem e para a sua saúde física, psíquica, familiar e social, justificam amplamente o esforço do desenvolvimento de uma dinâmica educativa, educação desde a infância, educação para a responsabilidade e para o bem-estar.

Essa é, em minha opinião, uma verdadeira atitude de Prevenção, até porque Prevenção não é propaganda, Prevenção é Éducação.


Porque também recebi educação, agradeço-lhe ter lido este texto.

Se lhe parecer adequado agradeço que o divulgue.

Bem-haja
Luís Duarte Patrício