- Quando estudei aprendi.
- Quem é ensinado aprende.
- Quem foi ensinado aprendeu.
- Quem nunca foi ensinado não sabe.
- Só ensina quem aprendeu, e se não me ensinaram…
Porquê?
Nas equipas de redução de riscos não há especialistas. Em Portugal nem há especialidade.
Nem tem que haver.
Mas tem que haver pessoas, profissionais de Saúde com competências adequadas, para ajudar, no que for possível, as pessoas do grupo alvo a quem se destina o seu competente trabalho.
Assim haverá certamente intervenientes que estão perto de consumidores. E entre estes pode haver os que fazem poucochinho em qualidade (porque sabem poucochinho) e os que fazem imenso porque sabem muito mais.
Quer dizer que na verdade da realidade há assimetrias, embora alegadamente sejam todos muito sabedores e como tal, provavelmente todos recebam pelo mesmo padrão, como se todos soubessem e fizessem imenso.
Mas...
E os consumidores que se injectam foram ensinados a fazer esses consumos, a reduzir riscos inerentes a esse comportamento?
Habitualmente aprendem entre pares. E não é raro haver um padrinho que lhes fez o batismo, como se dizia outrora e assim escrevi há 24 anos no meu livro Droga de Vida Vida de Droga.
Caldar (injectar) é sempre um consumo com risco acrescido.
Nesta imagem vê-se o resultado de caldo de heroína, feito (injectado por outro consumidor) no braço de jovem de 22 anos.
Esta nova consumidora em heroína iniciou-se em consumos de risco aditivo (nos terrenos da escola) aos 12 anos com tabaco e hax. E nos arredores da escola embriagava-se regularmente aos 14.
E na vida, fora da escola, foi baptizada a cheirar coca aos 18. E no verão de 2018, aos 22 anos começou a injectar heroína de rua.
Os consumidores que se injectam não são ensinados, de uma forma geral, por quem tenha competência. E os consumidores de álcool, que são numa quantidade muito maior, também nunca foram ensinados a saber consumir. Limitam-se a beber e muitos apenas emborcam. Sobre álcool leia em:
http://maladaprevencao.blogspot.com/2017/08/mensagens-sobre-bebidas-com-alcool.html?view=timeslide
Quero com isto dizer que, habitualmente quem consome aprende pelo que vê fazer. E se não vê fazer bem feito aprende mal, e aumenta os riscos e os danos.
Para quê usar um garrote?
O uso adequado de garrote congestiona a corrente sanguínea e salienta as veias. Assim ajuda a localizar as veias para que se vejam bem.
E se for bem usado não compromete a integridade das artérias.
Mas na verdade da realidade, o uso de garrotes não é isento de riscos, seja num tratamento num hospital, seja num consumo de rua.
O mau uso do garrote pode provocar lesões indesejáveis e até irreversíveis.
Convém que não esteja infectado e também convém e muito, que nunca fique preso e que se retire com facilidade.
Não é por acaso que há garrotes próprios para evitar os toscos garrotes improvisados, cintos, fitas e até trapos que podemos encontrar nos consumidores de rua.
Na verdade da realidade, não é nada raro que consumidores de substâncias injectadas, usem muitas vezes garrotes improvisados, sujos, infectados.
O uso repetido e a partilha de garrotes nos locais onde não existe, onde falta apoio em Saúde e Educação, aumenta o risco de flebites, de infecções e de outras graves consequências.
Em locais mais evoluídos e em programas mais evoluídos, os meios para reduzir riscos são bem geridos.
Em Portugal, durante muitos anos têm sido desperdiçados milhares de preservativos, entregues a quem não tem interesse em usar, não consegue usar ou não pode usar. Mas, ainda no âmbito da Redução de Riscos, em Portugal habitualmente não são entregues garrotes a quem os pode e deve usar, para reduzir riscos associados ao consumo injectado numa veia.
É útil que haja muito menos preservativos desperdiçados, para melhor gerir recursos, e oferecer em troca, garrotes adequados, para evitar os garrotes improvisados.
Quando os decisores aprenderem, isso irá acontecer.
Mas tem sido demorada essa aprendizagem, talvez porque haja quem aprenda lentamente. Cada um dá o que tem.
Sem competências, cada padrinho tem o afilhado que merece e vice versa?
Aumentando as competências passa a vingar o mérito de quem tem conhecimentos.
E com a melhoria dos conhecimentos beneficia cada doente e ganha a sociedade.