Jornal de Notícias
Convite Apr 24, 2020, 4:29 PM para partilhar. Estávamos
a trabalhar em consulta por videochamada, e entre consultas elaborámos as
respostas, sobre o que sabemos, enviadas às 6:33 PM.
Jornalista Delfim Machado:
… solicitar um conjunto de esclarecimentos/opiniões
técnicas e médicas sobre o consumo de substâncias psicotrópicas em período de
confinamento.
Nomeadamente:
1 – Se existem maiores riscos de aumento de consumos
de estupefacientes em período de pandemia. Caso exista esse risco, deve-se a
que fatores?
2 – Muitas associações têm falado da escassez da
oferta de substâncias resultante do fecho das fronteiras e tráfego aéreo, o que
leva a que as substâncias existentes sejam adulteradas.
… esta
alteração também aumenta o risco do desenvolvimento de patologias com gravidade
para os consumidores… ?
… se tiver
outros comentários… mercado, consumo, tratamentos e pedidos de ajuda, dentro do
período de pandemia…
Delfim Machado
Texto
enviado ao Jornalista Delfim Machado
Parte deste
texto faz parte integrante de uma reflexão mais vasta e em construção, anteriormente
iniciada e em parte publicada na minha pagina, e que tem contributos de colegas
portugueses e estrangeiros e de consumidores e doentes em tratamento.
Droga de Confinamento e Comportamentos adictivos
Necessidades e efeitos das restrições no consumismo
Por Luís Patricio
O CONFINAMENTO ou RESTRIÇÃO DE MOVIMENTOS,
provoca intensas mudanças,
nomeadamente redução dos intercâmbios,
anulação de inúmeras actividades e de… viagens, para
todos...
E também desencadeia
inúmeras mudanças face aos consumos,
nomeadamente onde a oferta era abundante,
muito acessível.
Para o consumidor ocasional
agora em confinamento, se consumir menos vezes, tem menos comportamentos com
risco.
Para o consumidor regular que
insiste no consumo, ou para o consumidor dependente, existem mais riscos, na
procura do produto, com maior ou menor escassez e por maior adulteração
do produto, e pelo aumento no preço.
Nesta fase, conseguir produto,
depende da região do País
Claro que quem não se consegue
confinar e “tem que se safar” o risco é acrescido.
Note-se que há consumidores
que têm 50, 60 e até 70 anos. São pais, são avós, vivem sós ou acompanhados.
Claro que os mais POBRES e
excluídos, porque não têm nada, nem como se proteger, não se podem confinar.
Estão sobre expostos a todos os riscos de antes e de agora.
Quem é consumidor vive sempre em alguma
tensão, que alivia com o próprio consumo.
Mas, em SITUAÇÃO DE RESTRIÇÃO
DE MOVIMENTOS, DE CONFINAMENTO, situação defensiva perante uma ameaça bem
identificada ou desconhecida, é natural que aumente nas pessoas a ansiedade, e
surjam reações emocionais desagradáveis, tensão, angustia, insegurança.
A solidão, a depressão,
porventura a vivência de abandono e até medo tudo piora.
E, neste contexto pode ser esperado o aumento
na procura e o aumento da oferta de substâncias psicoactivas.
O que está legalizado tem
menos dificuldade em ser disponibilizado (oferta) aos consumidores (procura).
Alcool e tabaco e fármacos
sedativos são substâncias legais muito acessíveis e muito consumidas.
Claro que as ”euforias”
e as “grandes bebedeiras de rua”, bem visíveis nas noites comerciais,
estão confinadas: não se vê este comportamento.
Mas há mais gente confinada em
casa, a beber, agora com regularidade, bebidas com álcool: aperitivos,
digestivos, destilados e vinhos e cervejas. E não era habitual tanto uso por
estas pessoas. Nas redes sociais percebe-se que existe esse consumo.
Mas, se a situação de
confinamento se prolongar no tempo, pode haver redução da oferta. E se a oferta dessas substâncias for
muito escassa, surge a redução da procura.
Mas, uma
situação de excepção, de confinamento ou restrição, pode criar uma anomalia na
normalidade consumista, e contribuir para que haja consumidores que ponham em
causa o seu equilíbrio nesse consumismo.
E assim podem desejar criar
alternativas a essa situação de desequilíbrio, reduzir ou até anular o consumo.
Mas, também podem surgir
outras reacções, nomeadamente agravar o consumo ou, derivar para substâncias
alternativas ou para comportamentos alternativos, com ou sem risco adictivo
manifesto. A derivação para o álcool é
comum.
Há que reconhecer verdades nas
realidades, em situação de confinamento:
a) o
preço do que seja objeto de maior necessidade ou de mais desejo, tende a
aumentar com ganho para poucos e prejuízo para muitos;
b) a
sua qualidade tende a diminuir, aumentando os riscos para a saúde
NA CONFINAÇÃO NADA ESTÁ NA
MESMA
Vejamos
COCAÍNAs . Para
snifar, Branca. E para fumar, Cosida.
O consumo está muito mais
aumentado, do que outrora, antigamente.
Mas, agora há:
·
Menos transportes, MAIS DIFICULDADE DE
"OFERTA"
·
Mais CONSUMIDORES QUESTIONANDO a sua
RELAÇÃO com a branca ou com a cosida.
·
Mais aflição, mais pedido de ajuda.
A "gulosa",
cocaína, não é inocente. A coca é "gulosa" e com álcool
tudo piora. Há muita derivação para consumo de álcool e de coca+álcool .
Existe relação directa com a capacidade para “arranjar” cocaína, com
queixas da quebra da qualidade. Obter branca “branca snifada”,
depende dos locais. “Onde vivo é só ir ao lugar certo”.
Consumo de cocaína - A NOITE
e as FESTAS
·
O confinamento que fechou estabelecimentos
da noite, bares, casas de diversão, e até restaurantes, mudou o comportamento
dos frequentadores. Consumidores, com mais dinheiro, não indo lá, lá não
consomem a “branca snifada”, cocaína (cloridrato).
·
E não havendo mega festas ou festas
privadas, não se juntam pessoas consumidoras.
·
Ficam-se mais pelo consumo individual no
carro ou “doseado” e doméstico. E isso obriga a sair de casa, para
buscar na rua ou ir ao bairro.
·
Mas, quem assumir expor-se mais (sem sair à
rua), tem referências para encomendar e, recebe à porta da casa ou até onde
vive.
SINTÉTICAS.
Consumo de Sintéticas
Não
havendo festas diminui o uso de substâncias sintéticas
Mas….
Esperamos pelo desconfinamento…
CANABIS. Erva e
Haxixe
O consumo está muito mais
aumentado que outrora, antigamente.
É ilegal, mas muito banal em
Portugal. Consumo, em casa, na rua, nas festas, na escola, na universidade, etc.
Qualidade? DESCONHECIDA.
Agora, no confinamento … não
abunda nos locais habituais. Por exemplo há doentes que me disseram que a Erva
e Haxixe estão a preço de ouro. Mas, aqui em baixo não falta.
HEROINA
Não falta. Mas
o consumo está muito mais reduzido que outrora, antigamente.
MEDICAMENTOS
Fármacos de abuso: aumento
confirmado. Com e sem receita médica.
FALTA
DE PROVISÃO DE MEDICAMENTOS NO TRATAMENTO
Aconteceu
faltar medicamentos a doentes, por não terem acesso à consulta e até
dificuldade ao telefonar para serviços.
Conheço
recaídas em heroína relacionadas com a falta do tratamento com o medicamento
opióide. Dois antigos doentes voltaram ao meu contacto, para desenrascar,
por ter faltado, onde eram tratados, a resposta necessária.
Saliento
que ao médico que o escuta, o doente que nele confia o que sente, não mente.
PREOCUPAÇÁO
PREOCUPAÇÁO PARA FUTURO
PRÓXIMO
1.
Que socialmente não haja descuidos, nem
pressas… em desconfinar.
O
desconfinamento pode vir a trazer mais e mais riscos, SE NÃO FOR GRADUAL.
2.
A descompressão RÁPIDA PODE ORIGINAR
AGRAVAMENTO DE COMPORTAMENTOS de risco para a saúde, com álcool e outras substâncias,
riscos com sexo, jogo, compras, etc.
3.
Prevenir é educar BEM, informar e Precaver.
Por exemplo face à cocaína e perante uma recaída… Se voltas "a riscar,
começa com pouco e devagar".
Com heroína,
para quem suspendeu, é idêntica a precaução.
Há
importantes cuidados a ter e que importa esclarecer, para que se fique a saber.
Luís Duarte Patrício é
autor do projecto pedagógico Mala da Prevenção
http://maladaprevencao.blogspot.com/
https://www.facebook.com/maladaprevencao.drluispatricio/
http://drogaparaquesaiba.blogspot.com/
Vídeos: https://www.youtube.com/user/psimedicina
Este foi o texto base, em curto
tempo preparado e enviado ao JN
Nos Bilhetes postais já
publicados, 1,2,3a, 3b e nos restantes a publicar este assunto está porventura
mais elaborado.
Obrigado pelas leituras e eventuais
partilhas.
https://www.facebook.com/maladaprevencao.drluispatricio/
1 - Droga de Confinamento e Comportamentos adictivos
Necessidades e efeitos das restrições no consumismo
2. O Confinamento e a procura e a oferta
de substâncias psicoactivas legalizadas
2.1 – TABACO em 2. O Confinamento e a procura e a oferta de substâncias psicoactivas legalizadas
2.1 – TABACO
Bilhetes Postais LP 3A e 3B
A continuar com textos e algumas fotos realizadas em dias de confinamento
Obrigado por ler
Luís Patrício