Pandemia, Confinamento
Trabalho e Saúde Individual, Familiar, Comunitária, Social,
Ambiental.
Saúde Mental
Pesadelo maior que o sonho?
Mas, estamos todos no mesmo Planeta.
Os interesses geopolíticos económicos parecem estar em
colisão com as necessidades de âmbito social sanitário.
A colisão cria lucros, recria vírus corrupção, ganhos,
benefícios geopolíticos económicos para alguns e novos vírus e mais danos sócio-sanitários
para muitos mais. A ruína está ali… Que ameaça...
Sem prevenção, surgem mais vírus, mais riscos, mais danos sócio-sanitários.
Sem prevenção assaltam-se mais ganhos geopolítico
económicos, por conta de quem acumula mais prejuízos, mais perdas, dos que
ficam mais ameaçados, mais presos, mais confinados.
Esperança na Mudança
Amigo dr Luís
Quando eu
era mais novo costumava, com o botão direito do rato, procurar sinónimos no
Word para embelezar os meus trabalhos. Não que tivesse um vocabulário assim tão
mau, só não conseguia competir com um computador. E, embora com essa ajuda eu
tivesse apresentado aos meus professores uma mente mais criativa e poética - e
com isso um maior apreço e uma melhor nota – a verdade é que aquela sensação de
satisfação que recai sobre aqueles que vomitam, sem artifícios, aquilo que
sentem, nunca me fazia sombra.
O exercício de continência retórica pautado
pelos mais obscuros adjectivos que praticava impedia-me de expor a minha
humanidade no seu nível mais cru.
Desta vez
quero que isso se foda.
Estou sentado a escrever no apartamento onde moro em lisboa. Não tem mais de 25
metros quadrados e custa-me perto do salário mínimo.
Tem dois
quartos. Um para mim outro para a minha filha. Ambos tem janelas.
Tenho uma
salinha e uma cozinha que praticamente funciona como corredor para a casa de
banho mais pequena do mundo.
Gosto da
minha casa.
Não estou
satisfeito, mas gosto.
Trabalho
como guia turístico e durante anos operei para patrões.
O ano
passado decidi começar o meu negócio.
Tenho mais
responsabilidades, mais riscos mas se tudo corresse bem, teria mais ganhos.
Se eu há 10
anos visse a vida que tenho hoje, com toda a honestidade, estaria muito triste.
Tinha 21 anos, estava na universidade e tinha uma vida pela frente cheia de
desejos, ambição e talento.
Mas a
verdade é que estava a dar os meus primeiros passos no período mais negro da
minha vida, em que me tornei num alcoólico toxicodependente que mentia, roubava
e fugia de todas as minhas responsabilidades.
Olhava para
a minha família como um mealheiro à minha disposição, ignorava uma filha que
precisava de um pai e alienei todas as pessoas que existiam na minha órbita. Só
não assassinei ninguém porque ainda estou vivo.
Aos 28 anos
decidi, depois de fugir de um hospital onde acordei.
E foi depois
disso que fui procurar tratamento.
Atenção que
não foi o facto de ter acordado de um coma num hospital que me fez ter uma
suposta epifania. Foi o facto de isso não ter sido um momento esclarecedor que
me assustou, pois, depois de ter fugido, fui comprar droga e consumir. Digamos
que a minha epifania surge pela ausência de epifanias.
Se eu com 28
anos visse a vida que tenho hoje, com toda a honestidade, nem acreditaria.
Seria bom demais. Sou um pai presente, sou o meu próprio patrão, tenho uma
família que me ama e bons amigos. E a minha namorada é incrível.
Quando
começou a quarentena até foi divertido. Via filmes com a minha namorada, lia
livros com a minha filha por videochat, aprendi receitas novas e sujei pouca
roupa.
Estávamos a
viver algo histórico sentia eu.
Mas depois a
merda começou a apertar.
Dizia-se que
o mundo parou. Quem me dera que fosse esse o caso.
Mas o mundo para mim não parou.
Continuei a
ter de pagar renda.
Continuei a
pagar contas.
Continuei a
pagar pensão de alimentos.
Como não
tinha salário nem contrato de trabalho tinha sempre um pé-de-meia para
eventualidades, e quando começou a quarentena até estava orgulhoso de ter como
me desenrascar.
Mas tudo tem
um limite.
Nos últimos
dias a realidade começou a desmoronar o bonito desenho que estava a pintar da
minha situação corrente.
Tal como
quando era mais novo sofria de uma procrastinação tão grave em que só começava
a estudar para um exame na véspera, agora só quando estou a zeros na minha
conta é que me dou conta dos problemas que vem adiante.
Estou a ter
pequenos ataques de ansiedade sem qualquer manifestação exterior.
Por fora
pareço uma estátua, mas por dentro sinto-me a afogar.
No meu
peito, sem estar à espera, sinto um furacão. Poderia utilizar metáforas bem
mais criativas, mas como referi antes não vou procurar sinónimos.
Quero manter
o meu negócio, mas tenho de pagar o empréstimo ao banco.
Posso viver
para um quarto em vez de um apartamento mas deixo de poder receber a minha
filha.
Mantenho o apartamento,
mas vendo o carro.
Mas preciso
do carro para poder levar a minha filha à escola.
Será que
preciso mesmo de gás?
Posso
cozinhar sem fogão e com o verão a chegar posso bem tomar banho de água fria.
Pedir
dinheiro emprestado aos meus próximos era uma coisa que eu fazia constantemente
quando consumia.
Não quero
nada voltar a essa prática. Mas vou ter de o fazer.
Dizem que
estamos todos no mesmo barco mas não é bem assim.
Sinto que o
conforto de alguns inibe a censura, a crítica e a desprezo.
Se eu quero
trabalhar, sou um filho da puta
que quer matar os idosos e os imunodeprimidos.
Se não
trabalhar tenho de ir para o banco alimentar e rezar para que ninguém me
reconheça ou para que nenhum canal de televisão esteja a alimentar-se da fome
alheia para os olhos do conforto de alguns.
Se eu
transmito qualquer tipo de preocupação para com a minha vida sou acusado de
egoísmo e ganância.
E o problema
é que é verdade… provavelmente estou a ser egoísta.
Mas que
posso eu fazer?
Eu não tenho
dinheiro. É um facto.
Já comecei
do zero antes, e acredito que consigo outra vez.
Mas antes
foi mais fácil porque tinha-me enterrado por más decisões minhas. Tinha feito merda e da grossa, fiz a
minha penitência e não sou nenhum herói. Pequenos passos, mas com vontade.
Podia nestes
últimos 3 meses feito alguma coisa diferente? Claro que sim!
Mas deixei
que a minha depressão me comandasse.
Comi
demasiadas bolachas e vi demasiada netflix.
Mas como ter
esperança?
Dizem que
vem uma segunda vaga, que se calhar não desenvolvemos imunidade, etc.
As decisões
que tomei no passado, como ter apartamento, começar o meu próprio negócio,
arranjar um carro, julgo que foram boas decisões. Mas, agora são as que me
custam no bolso.
Tendo isso
em conta como posso eu ter a força e a fé de que as decisões que posso tomar
daqui em diante para me manter à tona da água não me vão enterrar mais?
Sinto-me
perdido. Sem bússola. E isso não seria mau.
Deambular
sem preocupações é uma delícia. Se tempo não fosse dinheiro.
Um abraço
para si
Para os outros
quero ficar desconhecido.
Meu caro
És bem real, existes, e por tua indicação não escrevo
teu nome, nem pseudónimo.
Bravo pela tua muito boa evolução, obrigado pela
confiança, e obrigado por mais esta partilha.
A minha estima para ti e até mais logo ao telefone.
E, claro vemo-nos de novo para a semana.
Ab LP