sexta-feira, 25 de junho de 2010

PEDAGOGIA PARA A RESPONSABILIDADE

PEDAGOGIA PARA A RESPONSABILIDADE

Dr Luís Duarte Patrício


Utilização de alternativas ao encarceramento
Atitude contra o reforço da exclusão
Utensílio de PREVENÇÃO do agravamento de riscos individuais e sociais, inerentes à estadia e convívio "social" em estabelecimento onde vivem obrigatóriamente muitas pessoas com dificuldades individuais e sociais acrescidas.

Em muitos países e em muitos estabelecimentos prisionais não existem condições que garantam o respeito pela condição humana de quem está detido, nem o respeito pelas condições de trabalho de quem lá exerce dignamente as suas funções profissionais.

Em muitos países e em muitos estabelecimentos prisionais, ainda não está garantido o acesso ao tratamento a pessoas que estão doentes e cumprem pena de prisão.

De entre estas pessoas doentes há pessoas dependentes de substâncias psicoativas, legais ou ilegais, e que não têm acesso ao tratamento adequado a essa condição patológica.

Onde isto acontece aumenta o risco de que pessoas nessa situação, façam consumos de tudo o que possa servir para palear, sentir menos o seu sofrimento. "Enchendo a cabeça, não sinto tanto".

"Enche-se a cabeça" consumindo, na cadeia como no exterior, o que está disponível e com os utensílios que se arranjam.

E para pessoas desvalorizadas, que são de facto geradoras de comportamentos de "má vizinhança" ou que estão "abandonadas", pouco importa a atitude de cumplicidade, a agressiva partilha de uma mesma agulha e seringa e algodão, atitude que assim garante a disseminação, dentro e fora, de doenças infecciosas, de dispendioso tratamento e algumas ainda sem cura.

Assim se agrava a saúde e se "alimenta" um sistema incrivelmente desajustado para a dignidade da condição humana, mesmo dos homens de quem a sociedade se defende, por causa dos seus comportamentos não tolerados ou rejeitados.

Procurar anular, ou pelo menos procurar reduzir estes comportamentos é uma atitude de responsabilidade e cidadania.

Essa atitude tem que ser suscitada onde ainda não existe.

Uma nova atitude pedagógica tem que ser activamente promovida seja junto do Homem que "dirige" (pelo menos em parte) aquilo que consome, o consumidor, seja junto do Homem que dirige de forma responsável a estrutura onde vivem essas pessoas.

Numa recente conferência em Londres, (Universidade de Verão T3E UK), o Dr Santiago Rincón afirmou que em Espanha, em todos os estabelecimentos prisionais está disponível para quem necessite, o chamado Programa de Redução de Riscos, conhecido vulgarmente por Troca de seringas, bem como programas de tratamento, sem lista de espera, para dependentes que necessitem de tratamento de manutenção com opióide.

Quem pouco ou nada tem, pouco ou nada tem a perder
A quem se pode atribuir uma responsabilidade?
Quem tem capacidade para ser responsável?


Para as pessoas que no contexto social, pouco ou nada têm, nem de referências estruturantes, nem de saúde, nem de outros valores individuais, familiares ou sociais, pouco ou nada resta.
Quem pode ser responsável? O excluído?
Quais as suas competências?
Algumas pessoas que vivem na exclusão social, explicita ou implicita, "sobrevivem" impregnados na relação com bebidas com álcool.

Assim acontece. Assim se pode ver em diversos países de alguns continentes.
E certamente que também na nossa Europa, porventura à nossa porta.

"Ricos" ou "pobres", consumidores abusivos ou dependentes de etanol ou de outras susbtâncias psicoactivas, ficam "irmanados" no consumo e na perda da liberdade de não consumir.

Estando dependentes, consomem já não pelo prazer do uso, mas para mitigar ou prevenir o sofrimento da privação.

Mas, por esse mundo fora, e talvez na nossa rua, ainda há quem não saiba que é assim.´

E asim sendo, justiceiros ignorantes ou justiceiros atrevidos, condenam por vício (conceito moral), não entendem o que é a doença.

E assim sendo, não promovem o tratamento adequado e condenam ainda mais quem já está a cumprir a pena não desejada da dependência.

Alguns nem sabem que há dependentes que consomem o que muitos rejeitaram: o vinho a martelo, essa sim uma autêntica droga.

Para as pessoas a quem apenas resta a exclusão social, essa situação de excluído pode ser o antro "provocatório" e preparatório para a admissão na reclusão intra muros.

"Lá dentro não chove, está garantida cama, comida e até... companhia" . "Companheiros há muitos, pode é faltar-me o..."

As outras modalidades de exclusão, a exclusão mental, a patologia mental, o sofrimento psíquico individual e familiar, que podem ser o reforço da exclusão social, não são uma fantasia. Muitas vezes já existiam.

Na Europa, em Paris ou em outra grande cidade ouvimos pessoas "alienadas", a falar na rua, a dialogar com interlocutores que não vemos?

Na América Latina, em Lima ou em outra grande cidade, vemos doentes mentais desorganizados, a deambular pelas ruas?

Ainda há quem não veja a exclusão desta forma, ou esta forma de exclusão, por falta de saber, por falta de esperiência ou por falta de capacidade.

Certamente que os homens de boa vontade acreditaram que não será por falta de vontade.
Apesar destas situações, será que neste mundo se valorizam outras prioridades?

Registo !
Sabia que, há países onde ainda não é possível ao doente heroinodependente o tratamento com metadona ou com buprenorfina alta dose, prescrito pelo médico?

Será que nesse mundo se valorizam outras prioridades?
Voltaremos...



Registo !

Sabia que neste mundo o álcool parece ser substância psicoactiva cujo mau uso mais danos directos e indirectos provoca na saúde individual e colectiva, logo após o consumo de tabaco?

Sente-se obrigado a consumir álcool? Porquê?

Por quem e com que direito?

Já aprendeu a consumir álcool?


Ensinaram-lhe em sua casa, na sua escola, na sua universidade, no seu trabalho, no seu centro de saúde, na sua junta de freguesia, na sua paróquia, na associação, na taberna, na discoteca, na rua?

Ensinaram-lhe critérios, que sejam mais do que o senso comum carregado de mitos, de inverdades?

Para ser educado, mais vale tarde do que nunca

Será que neste mundo se valorizam outras prioridades?


Voltaremos...

A relação que a sociedade tem com o álcool faz parte, da nossa cultura ocidental:

  • Produção (doméstica e industrial).
  • Comércio (e marketing).
  • Consumo (adequado e abusivo, até com sequelas de doenças agudas e crónicas).
  • E claro está, a "fundamental" cobrança de impostos.

Actualmente sabemos muito mais sobre o álcool e nomeadamente sobre as doses "consumíveis sem entrar no patamar de risco" e sobre as sequelas do mau uso do álcool.

Mas muitos de nós, sejamos consumidores ou não consumidores, fazemos de conta que não sabemos, ou de facto continuamos a ignorar.

Temos que ousar falar do tema, porque há muito a fazer na promoção da saúde individual e social, mesmo que essa atitude colida com alguma dimensão cultural e com muitos interesses sociais, económicos, financeiros e até políticos.

O álcool das nossas bebidas, o etanol, é o mesmo que se compra na farmácia, mas tem as particularidades específicas da bebida que escolhemos.

Quem está muito pobre chega a beber a mistura de álcool puro com outra bebida barata... Ao que alguns de nós chegam quando estão em sofrimento e na… miséria.

Infelizmente há ainda quem use a expressão separadora: álcool e droga. Pode não convir que se diga, mas o álcool é uma droga. E é das que provoca efeitos semelhantes a muitas outras que a sociedade não aceita e que por isso estão ilegalizadas.

Voltaremos…

Luís Patrício

3 comentários:

  1. Boa noite,
    Acho que o alcool é um excelente exemplo daquilo que a influência cultural,social e publicitária pode fazer á essência do ser humano.
    Quero dizer, alguém gosta de vinho á primeira? E se o primeiro sentimento é de repulsa, porque insistimos nós na segunda, terceira, quarta tentativa até "aprender a gostar"?
    Sinceros cpm e um prazer participar
    Rui Pinto

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  2. Caro Senhor Rui

    Muito obrigado pela sua útil participação que me fez reflectir um pouco mais. Aqui deixo o meu comentário. Podemos ter gostos inatos e gostos adquiridos.
    Aqui no blog procuramos adquiri o gosto de fazer pensar, até mesmo para escolher o que se bebe.
    Escolher o que bebe deve ser uma decisão do consumidor. Sempre que possível escolha o que é de qualidade e sempre na justa quantidade, seja que líquido for:água,sumo, leite, ou qualquer outra bebida, Claro que aqui incluímos, só para quem gosta e apenas para quem pode, as bebidas com álcool.
    Bem haja
    Luis Patrício

    A relação que a sociedade tem com o álcool faz parte da nossa cultura ocidental. Produção (doméstica e industrial), comércio (e marketing), consumo (adequado e abusivo, até com sequelas de doenças agudas e crónicas). E claro está, cobrança de impostos.

    Actualmente sabemos muito mais sobre o álcool e nomeadamente sobre as doses "consumíveis sem entrar no patamar de risco" e sobre as sequelas do mau uso do álcool. Mas muitos de nós, consumidores e não consumidores, fazemos de conta que não sabemos ou de facto continuamos a ignorar.
    Temos que ousar falar do tema, porque há muito a fazer na promoção da saúde individual e social, mesmo que essa atitude colida com alguma dimensão cultural e com muitos interesses sociais, económicos, financeiros e até políticos.
    O álcool das nossas bebidas, etanol, é o mesmo que se compra na farmácia, mas tema as particularidades específicas da bebida que escolhemos.
    Quem está muito pobre chega a beber a mistura de álcool puro com outra bebida barata... Ao que chegamos quando estamos em… miséria.
    Há quem ainda use a expressão separadora: álcool e droga. Pode não convir que se diga, mas o álcool é uma droga. E é das que provoca efeitos semelhantes a muitas outras que a sociedade não aceita e que por isso estão ilegalizadas.

    Luís Patrício

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  3. Gostaria neste 1º post cumprimentar o Dr.Luís Patrício que em conjunto com alguns colegas e amigos seus, fizeram mais pela saúde deste país que muita gente alguma vez será capaz de imaginar. Fizeram e não enriqueceram nem se tornaram vedetas das tvs ou das rádios, quais conselheiros para tudo e para todos, pedagogos do que deve ser intimo, próprio. Porque tecer considerações sobre qualquer ser humano, sem contacto personalizado, sem ver os espelhos da alma, é pura colonização do próximo. Mas o Dr. Luís Patricio e os seus colegas e amigos, conseguiram realizar uma coisa muito mais importante e que um dia será objecto de estudo: pensar, ter ideias, estar acima do real, conceber para o geral e não para o particular. A isto chama-se intlectual, tecer uma rede de ideias, maturar, criar filtros entre a concepção e a realidade, e depois influenciar os terrenos de forma decisiva.
    Este apego que mantém às questões da saúde mental, vai muito para além do facto de ser psiquiatra. Estou em crer que está apenas e só no facto de ser um cidadão que luta pela cidadania à luz de direitos universalmente consagrados.
    Muito obrigado caro Dr. Luís Patricio
    Um abraço

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