JOSÉ GONZALEZ, um HOMEM com Norte
E AMIGO e PROFISSIONAL. E SÉRIO e COMPETENTE
Começo esta homenagem a um amigo, escrevendo de muito longe da nossa terra, de outra terra onde vim celebrar os 40 anos de adictologia de outo amigo o Prof Charles Nicolas (Martinique). É dia 28 de Outubro.
Claro que o dia está marcado pela notícia da partida do Zé Gonzalez.
No passado mês de Abril estivemos juntos na Cedofeita, no “seu” CAT irmão das Taipas. Lá convidado para passar umas horas, na reflexão sobre a actualidade no tratamento com opióides.
Nesse dia tive a sorte de poder almoçar com o Zé e também com o Roque e, porque o tempo não abundava, sintetizando conversámos um pouco sobre tudo o mais que se tem passado nas nossas vidas, na nossa terra e na Europa, até porque vimos de muito longe…
Hoje é dia de tristeza. Partiu um Homem a quem muito devo a amizade que dele recebi, um Homem por quem tenho muita estima, afecto afeição, um profissional honrado, um colega muito respeitador e muito amigo. Daqui abraço a família nomeadamente a filha Raquel e a mulher.
No ano passado, o Zé estava em Lisboa a ajudar na formação, quando as complicações se agravaram. De seguida fui ao hospital dar-lhe um abraço e dizer-lhe que continuava a pedir-lhe ajuda para o ano seguinte, nomeadamente para Madrid.
Com o Zé tive o privilégio de colaborar na construção e partilha de vários sonhos.
Com o Zé desenvolvemos o nosso modelo de Seminário Residencial Interactivo. Já fizemos largas dezenas destes seminários interactivos. No início foi com a ANIT associação que também ajudou a fazer e a crescer e de que foi um presidente muito activo, e depois por nossa iniciativa, porque, para agrado dos voluntários que aceitam participar, teimamos em não deixar de os fazer. O modelo que construímos tem pois a sua contribuíção.
Com o Zé e outros colegas, propusemos e ajudámos a construir a Declaração de Lisboa, onde delegados de 22 países e de diversas associações de profissionais, assumiram em 1992, a clarificação da toxicodependência como doença, e da pessoa dependente como um doente.
Com o Zé partilhámos e desenvolvemos o sonho da construção de uma Europa social, nomeadamente na partilha e intercâmbio de profissionais que trabalham, que são de facto trabalhadores no terreno em Portugal, na Europa e fora da Europa).
Sem o Zé não tínhamos feito o que fizemos, com as horas dedicadas a estas causas, ANIT, ERIT, T3E, e a tantas outras, dentro e fora do país, sem quaisquer benefícios financeiros, ou mordomias (de pessoas que se crêem importantes), mas por pura militância na construção e partilha.
O Zé fazia-me o favor de me aconselhar em tudo o que eu necessitava ou propunha ou desejava no Norte. Tinha sempre tempo, foi sempre amigo, mesmo quando discordava.
Era vertical. E talvez por isso também foi atropelado, traído, por quem tinha a obrigação, o dever de o respeitar e de estimar sempre e, sei que na sua descrição muito sofreu.
O Zé não praticou a modalidade tão frequentemente em voga de estar esquecido, vendido ou de ser traidor.
Para além do seu trabalho no “seu” maduro CAT da Cedofeita, por razões da sua saúde o Zé limitou as suas participações nos trabalhos não oficiais. Limitou o extra horário de âmbito nacional ou internacional que nos tem sido possível continuar a promover.
Mas sempre o Zé ajudou nessas actividades, e sempre participou até a saúde o permitir.
Há alguns meses disse-me que ainda tinha ponderado apresentar a sua comunicação em Madrid nas Jornadas de Socidrogalcohol, mas por conselho do seu médico, propôs um outro colega, o Dr. José Raio, que muito bem cumpriu com a missão. Foi uma extraordinária mesa redonda. Estiveram lá enchendopor completo a sala 2 muitos colegas portugueses e muitos outros espanhóis. A Portugal, a notícia chegou através dos que estiveram presentes e deste blog, para que se saiba.
Após Madrid ficámos os dois a aguardar as melhoras para que o Zé voltasse a participar nas outras iniciativas que se seguiram e nas que ainda estão previstas.
Tínhamos projectos para desenvolver, nomeadamente em Espanha e em Portugal.
Tive a sorte de ter tido o Zé Gonzalez como amigo. E continuarei a ter o Zé como amigo, porque espero nunca o esquecer. O Zé dizia o que tinha a dizer, mas também sabia sofrer em silencio, paciente.
De vez em quando falávamos por telefone, nomeadamente quando lhe pedia conselho sobre a quem enviar um doente, a quem convidar para uma conferência, para um projecto, em Portugal ou fora do país.
O Dr. José Gonzalez ajudou-me muito por isso lhe devo tanto. E também muito devo ao Prof Júlio Machado Vaz, até porque foi quem, há muito anos, no início, me sugeriu a colaboração do Zé Gonzalez: disse-me que com o Zé estaria muitíssimo bem para construir projectos. E foi mesmo verdade. Com o Zé não houve pântano, mas terreno firme, transparente, sólido, honesto, amigo.
Quero realçar que o Zé, enquanto membro da ANIT (1988- 2011), a associação de que também foi fundador, e nomeadamente como seu presidente, sempre teve uma atitude militante, de esforço, de entrega, com reconhecido sacrifício pessoal, nomeadamente depois de contribuirmos para a construção da federação europeia de associações de intervenientes em toxicodependência.
Facultámos, utilizámos, entregámos à causa da formação a partilha fins-de-semana, que diga-se em verdade, tirámos à família.
Com o Zé, então presidente da ANIT (1998), pudemos criar condições para a ida a Bolonha, de quase uma centena de profissionais portugueses, e ainda anteriormente e posteriormente, de largas dezenas a Paris, a Liège, de entre as muitas iniciativas que pudemos ter.
Com o Zé Gonzalez e colaboradores, Portugal teve no seu Porto, na Alfandega, em Fevereiro de 2000 a Conferencia Europeia da Federação Europeia de Associações de Profissionais Intervenientes em Toxicodependência, ERIT, um encontro europeu construído sem vaidades de poder ainda cheio de boas vontades e militância, com cerca de 1300 participantes vindos de 23 países se a memória não me engana.
Foi um momento muito alto e foi de seguida que percebemos que causou muitas invejas e o início de clivagens não assumidas.
Digamos que desde então foi o lento declínio, que terminou com anos de agonia duma ANIT que foi muito digna e solidária. Como ouvi no Porto a ANIT foi sendo deixada até perder o sentido, do que incomoda por fazer e existir. O norte recusou ser cangalheiro da ANIT.
Contrariamente a momentos menos dignos que temos vivido nos últimos anos, anos de partilha de poderes e de criação de resistências e clivagens, os anos anteriores foram anos em que se expressava muito ânimo na construção de partilha do saber entre profissionais, de muita amizade e de verdadeira solidariedade nessa partilha.
O Zé partiu, mas o Zé ficou. Para quem acredita, Deus á grande e sabe o que ele fez e merece.
A nossa estima, amizade e gratidão estão garantidas e aqui deixo uma modesta homenagem com alguns dos seus retratos, para alem do abraço dos colegas estrangeiros que dele bem se recordam, apesar da sua descrição.
Bem hajas Zé Gonzalez. Até lá
Abraço do teu amigo e colega Luís Patrício
Nota bem: gradualmente irei colocando mais fotos e legendas nas fotografias. As fotos são nossas e do Manuel Seoane, e do Afonso Alves e do Luis Paixoto e do Rui Gonçalinho
Nota bem: gradualmente irei colocando mais fotos e legendas nas fotografias. As fotos são nossas e do Manuel Seoane, e do Afonso Alves e do Luis Paixoto e do Rui Gonçalinho
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