COMPETÊNCIA – 1ª parte
Reconhecimento da competência em Portugal
Competência em Aditologia: precisa-se
Por Luís Duarte Patrício
Médico Psiquiatra
Chefe de Serviço por provas públicas
Todos sabemos como a linguagem pode confundir
Em Portugal não há médicos especialistas na área a que se chamou de Toxicodependências, não existe essa especialidade médica. Repare-se como a expressão Toxicodependências deixa de fora os consumidores que não estão dependentes, isto é, os consumidores ocasionais ou regulares, melhor esclarecendo os consumidores toxico independentes.
E a bem dizer, em Portugal “há muita droga”, ou melhor e pensando bem, muita substancia psicoactiva legal e ilegal e muitas atitudes de droga de mau uso, abuso e dependência patológica. E note-se que a palavra droga tem vários significados, um dos quais é bagatela, coisa sem valor, ou até o que não presta.
Pensando deste modo, droga é uma expressão que engana e por isso digo que não há droga. Afirmo que o que há, isso sim, é um elevado número de substâncias psicoactivas, legais ou ilegais, antigas ou modernas, naturais ou sintéticas, nacionais ou estrangeiras, etc, etc.
E se assim for compreendido afirmo que não há droga: há substâncias. Assim, em boa verdade droga é a atitude de as usar mal, de as usar com risco e danos para a saúde individual, familiar e social. Droga pode ser ainda a atitude de nos deixarmos enganar.
Sabemos como a linguagem pode confundir as pessoas, como por exemplo dizendo álcool, tabaco e drogas, dizendo estupefacientes, entorpecentes, narcóticos, como se as palavras atribuídas a substâncias de uns ou de outros grupos, significassem a mesma coisa. Todos sabemos que substâncias diferentes produzem efeitos diferentes no sistema nervoso central de quem as consome.
É impensável haver uma casa, um país sem substâncias psicoactivas, isto é aquilo a que algumas pessoas insistem em chamar de “droga”.
Numa terra civilizada, existem substâncias naturais ou sintéticas, desde a acetona, o álcool, a cafeína, a nicotina, a gasolina, o éter e outros solventes e diluentes, os sedativos, e tantas mais substâncias.
Para quem tenha dúvidas convido a que leia no Diário da República as substancias que estão identificadas na tabela da lei portuguesa: tudo isso é considerado “droga”.
Uma droga de atitude será é considerar as substâncias psicoactivas como droga, forma de beatificar umas substâncias e de diabolizar outras, substâncias legais e ilegais cujo mau uso sempre prejudica a saúde de quem as consome e o bem-estar dos seus envolventes.
Nunca é demais repetir a ideia de que mais do que as substancias, droga é a atitude de as usar mal, com risco desnecessário e dano consequente.
Não será fácil mudar de representações, mas mantendo na nossa ideia e nas nossas casas conceitos que temos tido, drogas leves e pesadas, naturais e sintéticas, químicas e ecológicas, etc., continuamos na mesma.
E continuando as sociedades a reagir da mesma forma incompleta e ao lado, tudo continuará na mesma.
Em minha modesta opinião, neste mundo globalizado, submergido pelo predomínio do modelo social do consumismo precisamos de mais capacidade antecipatória, de aumento da exigência e competência educativa e preventiva, de gente ainda mais competente e de mais profissionais competentes.
Apesar do desejo e do esforço de alguns profissionais, apesar desses esforços já ensaiados mas até agora ainda insuficientes, em Portugal continua a não haver a competência em Aditologia.
A Aditologia, a patologia aditiva é uma das áreas da Saúde Mental ainda que possa haver quem insista em não o reconhecer por falta de conhecimento ou quem sabe por outros interesses.
Mas quem observar de boa-fé percebe que os comportamentos aditivos, estão relacionados com sofrimento psíquico, estando relacionados com as causas e/ou com as consequências.
As patologias aditivas e outra comorbilidade psiquiátrica são temas que desde há muitos anos merecem a atenção e preocupação de quem é profissional de saúde e diariamente trabalha na actividade clinica. E estes temas continuam actuais.
Psiquiatras, pedopsiquiatras, médicos de clinica geral e familiar, médicos internistas, ginecologistas e obstetras, pediatras, pneumonologistas, infeciologistas, gastroenterologistas, hepatologistas, estomatologistas, cirurgiões, oftalmologistas, ortopedistas, neurologistas, e até urologistas entre muitos outros profissionais, são especialistas que para não prejudicar os doentes têm obrigação de ter um mínimo de conhecimentos sobre abuso de substâncias psicoativas, sejam legais e ilegais e sobre outros comportamentos de risco para a saúde.
E os profissionais que desejam ajudar os doentes e suas famílias, têm que ter um máximo de conhecimentos e deformação para contribuirem para a prevenção das doenças e para o tratamento da pessoa que adoeceu na sequência do uso, do consumo de comportamentos de risco, com ou sem substância psicoactiva legal ou ilegal.
Os profissionais de saúde têm hoje ao seu alcance muitos mais conhecimentos, sobre comportamentos de risco para a saúde e dependências patológicas, do que dispunham há 50 anos.
A ciência continua a evoluir e é nossa obrigação reconhecer entre nós, o mérito dos pioneiros e agradecer-lhes a partilha dos seus conhecimentos.
Neste âmbito recordo com satisfação o início da minha actividade no Hospital Distrital de Portalegre (1977) no Centro de Saúde Mental de Portalegre (Dr. Francisco Pólvora) e na Consulta de Adolescentes e Toxicodependência (Prof Dias Cordeiro e Dr. Nuno Miguel) do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria (Prof Pedro Polónio) (1980).
Claro que deste então até ao dia de hoje sempre procurei actualizar-me e partilhar o conhecimento. Importa aprender mais, insistir no intercâmbio, na partilha: parar é que não é caminho.
Da infância à 4ª idade
Quem quiser promover a Educação e a Prevenção de comportamentos de risco para a saúde física, psíquica, familiar e social, deve pensar sem hesitações nos benefícios de o fazer com seriedade, atenção, cuidado e energia.
Em minha opinião, a promoção da saúde deve ser feita com rigor e, nomeadamente desde a infância pelo menos até à pré-adolescência e adolescência. E importa salientar os benefícios em manter esse acompanhamento durante à idade adulta, benefícios em fazer a revisão da matéria durante a maturidade e em fazer o discreto acompanhamento durante a 3ª e 4ª idade.
Claro que toda esta actividade exige muito esforço, trabalho e não acaba durante o tempo útil de uma campanha, nem durante o tempo útil de qualquer actor social.
Mas os benefícios para o Homem e para a sua saúde física, psíquica, familiar e social, justificam amplamente o esforço do desenvolvimento de uma dinâmica educativa, educação desde a infância, educação para a responsabilidade e para o bem-estar.
Essa é, em minha opinião, uma verdadeira atitude de Prevenção, até porque Prevenção não é propaganda, Prevenção é Éducação.
Porque também recebi educação, agradeço-lhe ter lido este texto.
Se lhe parecer adequado agradeço que o divulgue.
Bem-haja
Luís Duarte Patrício
Olá Dr. L. Patricio.
ResponderExcluirConcordo plenamente e adoraria fazer um mestrado nessa area. Quando souber de alguma possibilidade divulgue.
Um abraço
bom trabalho!
Rosa P.