Em Portugal a droga
continua mal
Até onde vamos descer?
Mais de 10 anos de propaganda não escondem a realidade
Pela nossa SAÚDE,
prevenir
o mal-estar, o sofrimento,
faz muita falta
Há que rever o que
acontece ou não acontece na PREVENÇÃO e EDUCAÇÂO, no TRATAMENTO, na REINSERÇÃO na
RECUPERAÇÃO, na FORMAÇÃO e na PROGRAMAÇÃO de POLÍTICAS em SAÚDE
.
1 - Reconheço
Desde há largos anos, o
que é divulgado, o que se lê e ouve na comunicação alinhada, não corresponde ao
que temos visto e ao que nos diz quem sofre, os doentes e seus familiares e até
profissionais de saúde e do ensino, que trabalham no terreno.
A dimensão do que
aconteceu em Portugal nos últimos anos também tem sido ignorada em relatórios
de agências, que só divulgam o que oficialmente recebem.
Mas calar o que não
convém não anula a existência do omitido. Na nossa realidade, desde há
mais de dez anos tem aumentado o consumo de abuso público e privado de
substâncias legais e ilegais. Abunda cocaína social, laboral, privada, entregue também ao domicilio. Abunda o consumo escolar de canabis e tabaco. Abunda o abuso de álcool e o consumo de sintéticas. A heroína recupera adeptos? O abuso de sedativos mantém-se.
Em Portugal tem diminuído a qualidade e quantidade no
tratamento de doentes e na redução de riscos. E nos profissionais do terreno,
tem aumentado o incómodo, desalento e exaustão, até mesmo o medo de falar.
2 - Desvio na verdade
Abordar o que não está
correcto tem sido politicamente incorrecto. E ainda que as observações feitas
sejam tecnicamente incontestáveis e verdadeiras, o medo de falar destes
assuntos, faz com que haja falta de verdade. Sim, porque o receio de ser mal
classificado, de perder a graça da chefia e até o emprego, faz com que haja
quem se cale ou oculte a verdade.
A perda e ausência de
condições para trabalhar
A perda ou até a degradação da qualidade
e de condições de trabalho na última década é uma realidade e não é uma
raridade.
A título de exemplo transmito uma vez
mais, o que já ouvimos de doentes, familiares ou profissionais: doentes com
poucas consultas médicas, doentes mal medicados ou diagnosticados ou
insuficientemente medicados, ou que não conhecem o médico; análises feitas fora
de prazo; doentes que fazem autogestão de medicação cujas receitas são
sistematicamente obtidas e entregues por profissionais que não são médicos nem
enfermeiros; usurpação de funções médicas.
Há quem, sendo doente, prepare a sua
dose de metadona?
Há quanto tempo não tem consulta e
observação médica?
O que é que se vende “à porta” do
serviço? E há quantos anos isso continua a acontecer?
A procura para tratamento pode oscilar
localmente entre a sobrecarga para um médico que não tem capacidade de resposta
em tempo ou conhecimentos adequado, outra falta de recursos, e a não existência
de… clientes. E neste caso, para manter o lugar e a porta aberta, é “agarrado”
tudo o que possa ter algum sintoma ou queixa, para justificar números, mesmo
que o cliente não sofra de adição.
Quem é que sendo profissional ou sendo
doente esclarecido, está satisfeito com o insuficiente cumprimento da lei de
redução de riscos, criada há 15 anos?
E quem está satisfeito com a limitação ou
ausência na Educação para a Saúde insuficiência na Prevenção?
3 - Desmotivação e assédio
Após dezenas de anos de muito entusiasmo
de muitos profissionais, na última década constata-se que a desmotivação tem
sido crescente, existe e é um problema grave. Há quem use baixas prolongadas
por cansaço, por doença e há outras situações.
Não são poucos os profissionais que
saíram para se proteger e foram muitos os que o desejaram e não puderam.
E há quem, para garantir o salário ou,
para não ser prejudicado na reforma, se sujeite ao assédio moral, à
agressividade ou falta de saber ou de competência de chefias.
Há quem silencie o sofrimento. Há quem,
sendo profissional, tenha medo de falar, de ser mal classificado ou ignorado,
de não progredir e ser marginalizado por chefias cada vez mais engraxadas e
engraxadoras junto das suas chefias.
É sabido que, quando os poderes
reinantes gostam de bajulação, cria-se espaço para os perversos que os adoram e
se alimentam da tensão com a manipulação. Cria-se o espaço para o assédio
moral.
4 - Quebrar tabus ou continuar
ondulando?
Droga de droga em Portugal acontece
quando não importa a verdade, não vale toda a verdade, porque importa o
protagonismo da droga de sucesso que mascara o insucesso.
Importa quebrar tabus muros e abrir as
portas dos quintais ou quintas.
É preciso tirar a máscara de quem retém
à distância, fora do sistema, pessoas ou ideias ou saberes, que não se deseja
que entrem. Isto acontece quando não entram no sistema doentes incómodos ou
profissionais incómodos.
E é preciso tirar a máscara de quem
retém intramuros pessoas ou ideias que não devem, ou melhor não se desejam que
saiam. Isto acontece quando não podem sair do sistema profissionais desgastados
com o sistema, ou doentes melhorados para que não se fique com menos doentes ou
apenas com “os piores”.
Em Portugal, entre o “está tudo bem” dos
carentes mas alegres, e o incómodo dos carentes e tristes com os recuos, temos
estado ondulando ou naufragando na carência de avanços e de meios de
intervenção.
Não têm faltado as tentativas de
entorpecimento do pensamento com consoladoras notícias de sucesso para o
exterior com dados trabalhados.
Assim se tem vivido por cá com lugares
conservados e colocações cúmplices, governantes consolados porventura enganados
e enganando, assim vamos desandando.
Há quem veja vaidade e falta na verdade
do poder, atitude que faz de nós ridículos lá fora e até
medíocres com a caricatura de sucesso que esconde o desânimo, e falta de vigor
cá dentro.
O descrédito, o desconforto reflecte-se
por exemplo com os tratamentos insuficientes, com incremento do abuso de
cocaínas, de cannabis, de álcool, de sedativos, de substâncias sintéticas, com
as carências na redução de riscos nas ruas e nas cadeias, com o descuido ou
incapacidade de tratamento em patologia dual, enfim com o retrocesso e a falta
de progresso cá dentro.
Mas para alguns dirigentes está tudo
bem, mas só para essa minoria.
É necessário o conhecimento e uso de
toda a verdade.
A mudança é necessária.