sexta-feira, 20 de maio de 2016

A DROGA CONTINUA MAL. ATÉ ONDE VAMOS DESCER? Mais de 10 anos de propaganda não escondem a realidade.

Em Portugal a droga continua mal

Até onde vamos descer?

Mais de 10 anos de propaganda não escondem a realidade


Pela nossa SAÚDE,
prevenir o mal-estar, o sofrimento, 
faz muita falta
Há que rever o que acontece ou não acontece na PREVENÇÃO e EDUCAÇÂO, no TRATAMENTO, na REINSERÇÃO na RECUPERAÇÃO, na FORMAÇÃO e na PROGRAMAÇÃO de POLÍTICAS em SAÚDE

 Pensar e trabalhar em patologia aditiva é trabalhar em comportamentos de risco, em patologia dual, trabalhar em saúde mental

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1 - Reconheço
Desde há largos anos, o que é divulgado, o que se lê e ouve na comunicação alinhada, não corresponde ao que temos visto e ao que nos diz quem sofre, os doentes e seus familiares e até profissionais de saúde e do ensino, que trabalham no terreno.
A dimensão do que aconteceu em Portugal nos últimos anos também tem sido ignorada em relatórios de agências, que só divulgam o que oficialmente recebem.
Mas calar o que não convém não anula a existência do omitido. Na nossa realidade, desde há mais de dez anos tem aumentado o consumo de abuso público e privado de substâncias legais e ilegais. Abunda cocaína social, laboral, privada, entregue também ao domicilio. Abunda o consumo escolar de canabis e tabaco. Abunda o abuso de álcool e o consumo de sintéticas. A heroína recupera adeptos? O abuso de sedativos mantém-se.
Em Portugal tem diminuído a qualidade e quantidade no tratamento de doentes e na redução de riscos. E nos profissionais do terreno, tem aumentado o incómodo, desalento e exaustão, até mesmo o medo de falar.




2  - Desvio na verdade
Abordar o que não está correcto tem sido politicamente incorrecto. E ainda que as observações feitas sejam tecnicamente incontestáveis e verdadeiras, o medo de falar destes assuntos, faz com que haja falta de verdade. Sim, porque o receio de ser mal classificado, de perder a graça da chefia e até o emprego, faz com que haja quem se cale ou oculte a verdade.

A perda e ausência de condições para trabalhar
A perda ou até a degradação da qualidade e de condições de trabalho na última década é uma realidade e não é uma raridade.

A título de exemplo transmito uma vez mais, o que já ouvimos de doentes, familiares ou profissionais: doentes com poucas consultas médicas, doentes mal medicados ou diagnosticados ou insuficientemente medicados, ou que não conhecem o médico; análises feitas fora de prazo; doentes que fazem autogestão de medicação cujas receitas são sistematicamente obtidas e entregues por profissionais que não são médicos nem enfermeiros; usurpação de funções médicas.
Há quem, sendo doente, prepare a sua dose de metadona?
Há quanto tempo não tem consulta e observação médica?
O que é que se vende “à porta” do serviço? E há quantos anos isso continua a acontecer?

A procura para tratamento pode oscilar localmente entre a sobrecarga para um médico que não tem capacidade de resposta em tempo ou conhecimentos adequado, outra falta de recursos, e a não existência de… clientes. E neste caso, para manter o lugar e a porta aberta, é “agarrado” tudo o que possa ter algum sintoma ou queixa, para justificar números, mesmo que o cliente não sofra de adição.

Quem é que sendo profissional ou sendo doente esclarecido, está satisfeito com o insuficiente cumprimento da lei de redução de riscos, criada há 15 anos?
E quem está satisfeito com a limitação ou ausência na Educação para a Saúde insuficiência na Prevenção?

3 - Desmotivação e assédio
Após dezenas de anos de muito entusiasmo de muitos profissionais, na última década constata-se que a desmotivação tem sido crescente, existe e é um problema grave. Há quem use baixas prolongadas por cansaço, por doença e há outras situações.
Não são poucos os profissionais que saíram para se proteger e foram muitos os que o desejaram e não puderam.
E há quem, para garantir o salário ou, para não ser prejudicado na reforma, se sujeite ao assédio moral, à agressividade ou falta de saber ou de competência de chefias.

Há quem silencie o sofrimento. Há quem, sendo profissional, tenha medo de falar, de ser mal classificado ou ignorado, de não progredir e ser marginalizado por chefias cada vez mais engraxadas e engraxadoras junto das suas chefias.

É sabido que, quando os poderes reinantes gostam de bajulação, cria-se espaço para os perversos que os adoram e se alimentam da tensão com a manipulação. Cria-se o espaço para o assédio moral.

4 - Quebrar tabus ou continuar ondulando?
Droga de droga em Portugal acontece quando não importa a verdade, não vale toda a verdade, porque importa o protagonismo da droga de sucesso que mascara o insucesso.
Falar da realidade do insucesso é tabu. Mas há muito que é tempo de quebrar tabus.
Importa quebrar tabus muros e abrir as portas dos quintais ou quintas.
É preciso tirar a máscara de quem retém à distância, fora do sistema, pessoas ou ideias ou saberes, que não se deseja que entrem. Isto acontece quando não entram no sistema doentes incómodos ou profissionais incómodos.

E é preciso tirar a máscara de quem retém intramuros pessoas ou ideias que não devem, ou melhor não se desejam que saiam. Isto acontece quando não podem sair do sistema profissionais desgastados com o sistema, ou doentes melhorados para que não se fique com menos doentes ou apenas com “os piores”.

Em Portugal, entre o “está tudo bem” dos carentes mas alegres, e o incómodo dos carentes e tristes com os recuos, temos estado ondulando ou naufragando na carência de avanços e de meios de intervenção.

Não têm faltado as tentativas de entorpecimento do pensamento com consoladoras notícias de sucesso para o exterior com dados trabalhados.

Assim se tem vivido por cá com lugares conservados e colocações cúmplices, governantes consolados porventura enganados e enganando, assim vamos desandando.

Há quem veja vaidade e falta na verdade do poder, atitude que faz de nós ridículos lá fora e até medíocres com a caricatura de sucesso que esconde o desânimo, e falta de vigor cá dentro.

O descrédito, o desconforto reflecte-se por exemplo com os tratamentos insuficientes, com incremento do abuso de cocaínas, de cannabis, de álcool, de sedativos, de substâncias sintéticas, com as carências na redução de riscos nas ruas e nas cadeias, com o descuido ou incapacidade de tratamento em patologia dual, enfim com o retrocesso e a falta de progresso cá dentro.

Mas para alguns dirigentes está tudo bem, mas só para essa minoria.
É necessário o conhecimento e uso de toda a verdade.
A mudança é necessária.

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