ADIÇÕES e SAÚDE MENTAL
Há homens grandes e HOMENS capazes de grandes ATITUDES.
Há MÉDICOS grandes para
servir os seus doentes, HOMENS que neles confiam.
Este texto não é para dar
graxa a alguém. Também não é para ironizar, até porque os Homens não
são todos iguais.
Este texto apenas descreve
uma realidade que, situada em devido tempo, ajuda a perceber que na droga nem todos são iguais, nem tecnicamente
estudiosos das mesmas preocupações, nem praticantes da mesma ética face ao
doente e face à comunidade cientifica e à comunidade social.
Homenageio o Dr. Reis Marques
Este texto surgiu apenas e tão só, porque há muitos anos, quando ainda não era nada fácil, nem "prestigiante", reconhecer na Saúde Mental a realidade da toxicodependência, o MÉDICO psiquiatra
Dr. Reis Marques, entendeu que era necessário reflectir mais sobre o que muitos ainda negavam: Toxicodependência e Saúde Mental.
O Dr Reis Marques era então Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos.
O Dr Reis Marques era então Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos.
Este convite que me foi feito, para colaborar na Revista da Ordem dos Médicos, seguiu-se a um anterior equívoco[1]. Desta vez a reflexão seria sobre uma realidade que então ainda não era assumida por muitos
profissionais de saúde: Toxicodependência e Saúde mental.
E este texto foi mesmo publicado.
E este texto foi mesmo publicado.
Outrora “a Droga”, uma ameaça nova,
não era preocupação da área da saúde, não cuidada pela saúde, nem mesmo pela saúde mental.
As primeiras respostas oficiais, no estrangeiro e também em Portugal, foram das forças da repressão. E os poucos profissionais de Saúde que nos anos 60 a 80
do século passado, no estrangeiro e depois em Portugal, ousavam ajudar “drogados”,
não eram bem vistos por muitos dos seus pares. Essa actividade clínica não era bem vista, não era um trabalho respeitado.
Se desbravar caminho cria incómodos, ser pioneiro cria invejas.
Se desbravar caminho cria incómodos, ser pioneiro cria invejas.
Também é verdade que no estrangeiro e depois em Portugal, o
oportunismo de comerciantes e até a farsa face às “curas”, não era coisa rara. Ainda hoje os cidadãos ignorantes ou descuidados, correm o risco de ser manipulados ou até enganados.
Em Portugal, foi uma revolução o envolvimento do Ministério da Saúde assumindo o
tratamento de doentes toxicodependentes.
Estávamos em 1987 quando foi criado o Centro que se viria a chamar das Taipas (por se localizar na rua das Taipas), que tanto fez, que tanto ajudou tantos doentes e profissionais e que tanto incomodou.
Um dia escreverei muito sobre este projecto, para o qual fui convidado pelo Dr. Nuno Miguel, em que tanto me envolvi empenhadamente durante 21 anos em que fui responsável. Dez anos antes tinham sido criados no Ministério da Justiça três Centro de Estudo e Profilaxia da Droga (CEPD). E ainda antes, em 1973, o Prof Dias Cordeiro abriu no Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria a primeira consulta para Adolescentes e Toxicodependentes.
Estávamos em 1987 quando foi criado o Centro que se viria a chamar das Taipas (por se localizar na rua das Taipas), que tanto fez, que tanto ajudou tantos doentes e profissionais e que tanto incomodou.
Um dia escreverei muito sobre este projecto, para o qual fui convidado pelo Dr. Nuno Miguel, em que tanto me envolvi empenhadamente durante 21 anos em que fui responsável. Dez anos antes tinham sido criados no Ministério da Justiça três Centro de Estudo e Profilaxia da Droga (CEPD). E ainda antes, em 1973, o Prof Dias Cordeiro abriu no Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria a primeira consulta para Adolescentes e Toxicodependentes.
Droga e Saúde foi um assunto que só lentamente, gradualmente, foi sendo assumido publicamente, mesmo pelos profissionais de Saúde Mental. Em privado o assunto
tinha e tem outros contornos.
Quanto à formação de profissionais... nem todas as Faculdades de Medicina faziam formação de alunos
em patologia aditiva.
Foi a partir da década de 80, que foi sendo feito um grande investimento para
que os Médicos de Família alargassem os seus conhecimentos e assim pudessem melhor tratar os seus doentes
toxicodependentes. Destaque para o Instituto de Clínica Geral da Zona Sul e Ilhas que se envolveu de forma manifesta e mais tarde para a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) que também foi criando oportunidades para formação. (Exemplar foi o Dr ADELINO DIAS, médico de Medicina Geral e Familiar, competente, dedicado e amigo. . https://www.youtube.com/watch?v=YtbqQEnyhTI
Também nos envolvemos bastante pessoalmente e de 1998 a 2000, também através da Associação Nacional de Intervenientes em Toxicodependência (ANIT) e da Associação Toxicomanies Europe Échanges Études (T3E), na formação e mobilização de algumas dezenas de médicos de Clínica Geral,
pelo país. Mas também muitos médicos do Internato de Psiquiatria, internos de psiquiatria e de pedopsiquiatria, se interessaram, muitos dos quais
assumiram uma nova forma de cuidar de doentes com patologias aditivas.
Foi um trabalho, muitas vezes desejado, outras vezes tolerado e também ouve quem não aceitasse, acontecendo até, nos anos oitenta, jovens médicos fazerem formação "às escondidas" das suas chefias em saúde mental.
Foi um trabalho, muitas vezes desejado, outras vezes tolerado e também ouve quem não aceitasse, acontecendo até, nos anos oitenta, jovens médicos fazerem formação "às escondidas" das suas chefias em saúde mental.
Receber o apoio e estímulo do
Dr. Reis Marques para publicar na Revista da Ordem dos Médicos foi, em minha opinião, uma atitude
que muito contribuiu para que, quem não aceitava "pensar a droga", repensasse a atitude.
Consumir substâncias psicoactivas, legais ou ilegais é um
comportamento de risco. Ficar dependente é uma consequência, um dano, uma sequela.
São muitos os comportamentos de risco, com e sem uso de substâncias
psicoactivas, que podem provocar danos. A dependência pode ser um desses danos.
Uma dependência patológica é consequência do consumo que fez adoecer o
consumidor e que faz sofrer quem com ele esteja. O dependente deve ser ajudado a tratar
a dependência e os restantes sofrimentos que estejam associados ao consumo, prévios, concomitantes
ou posteriores.
Passaram 16 anos e, infelizmente, ainda não temos as respostas necessárias na Saúde Mental e nos Cuidados Primários de Saúde a nível local, para responder às necessidades dos doentes e de suas famílias.
Mas temos esperança, porque, mesmo contra muitos interesses e medos,
a ciência sempre avança.
Repito que há HOMENS capazes de ATITUDES GRANDES.
Há MÉDICOS que são muitíssimo
mais do que técnicos licenciados
[1]
A primeira, ocorrida anos antes a
pedido de uma colega e feita em tempo record não terá passado nos critérios
editoriais desse tempo e abortou. Na verdade, depois de um dia de trabalho ate
às 22h seguiu-se uma noitada de mais 7 horas para corresponder ao convite/pedido de colega e jornalista.
Mas se desse trabalho nada foi publicado, no mesmo espaço outras vozes
foram relatadas. Fruta da época em
que, em Portugal, a então nova e progressista resposta
face à droga, no âmbito da saúde, incomodava quem não concordava, nomeadamente cidadãos estabelecidos,
estagnados ou até, com inveja.
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