Droga Para que saiba: UMA HISTÓRIA DE INSUCESSO. QUE DROGA! Recuperador e distribuidor de seringas

Bom dia Dr Luis Patrício.

Quero dizer-lhe que tenho visto com atenção os seus post's no Facebook sobre as máquinas para troca de seringas em França, e quero deixar aqui a descrição de algo que aconteceu comigo, quando estava "agarrado" e que me parece ser pertinente em relação a este tema.

Lembro-me de um dia de manhã em que eu estava com uma ressaca tão grande que se desse um espirro...borrava-me todo! .

Comigo estava um "carocho", e estávamos à porta de uma farmácia.

Aguardava a abertura (9:00), para comprar uma "bomba" (seringa), para mim. Eram 8:45 e o "carocho" tinha a "bomba" dele em sua posse, mas usada.

Acontece que eu estava tão desesperado que resolvi que não ia esperar 15 minutos para dar um caldo... Nessa altura 15 minutos era tempo de mais...

E pedi-lhe para partilhar a "bomba" dele comigo. Ele disse-me que podia ser, mas avisou-me também, que tinha Hepatite...

Pois bem, esse aviso não me serviu de nada...e partilhei a "bomba" com o meu "amigo"...

Apanhei Hepatite por causa disto... Estúpido!

Se na altura eu tivesse um local onde me pudesse dirigir para pedir uma seringa, hoje estava livre da doença e não precisava do tratamento caro para a Hepatite que o governo me paga...

Confesso que, por vezes, até me sinto mal em saber que estou a gastar dinheiros públicos por um erro meu, por uma decisão mal tomada...

Fica o registo, que pode partilhar como e com quem entender, assim ele possa servir de exemplo a alguém...

Só lhe peço para não referir o meu nome.

PS - É na ignorância que está a doença!

Cumprimentos

“Xico Boaventura”

UMA HISTÓRIA DE INSUCESSO. QUE DROGA!

Recuperador e distribuidor de seringas

Tudo tem um princípio.

Luís Patrício

Co fundador de T3E

Por muitas vezes tenho divulgado a existência destes utensílios para redução de riscos.

Durante muitos anos tivemos o privilégio de poder organizar múltiplos encontros nacionais e internacionais na Europa e fora da Europa.

As relações internacionais que criámos, muitas das quais ainda mantemos, permitiram colher benefício para centenas de profissionais portugueses, maioritariamente quem despesas acrescidas para o governo. Foi tempo em que, com muito ânimo, procurávamos contribuir para a construção da Europa Social.

Em 2003, Abril, organizámos mais uma viagem de trabalho a França Coloquio Internacional T3E, para cerca de 40 profissionais de Saúde de Portugal, juristas e imprensa, trabalhando na área das dependências patológicas.

Estas são algumas imagens memórias desses tempos, aqui com fotos de Afonso Alves, Luís Peixoto e Luís Patrício. Oportunamente poderá ver todas em Memórias no Blog Mala da Prevenção.
Quem não se esqueceu esteve em Beauvais/Sato, Paris/Clinique Liberté, e Paris/Espaço Parmentier. Alguns participantes puderam ver o Recuperador e Distribuidor de seringas colocado pelas autoridades de saúde, no exterior da estação de comboios de Creil. Sob gestão dos nossos colegas amigos de SATO.

Na ocasião filmámos estes utensílios de redução de riscos (com Afonso Alves em vídeo profissional Beta). E na mesma semana no regresso a Lisboa, a convite da RTP essas imagens passaram no Telejornal. Assim se divulgou uma resposta que ainda não havia em Portugal.

Posteriormente, através dos coelgas de Paris, convidei os responsáveis pela criação e distribuição de tais máquinas, para participarem num dos encontros anuais que iniciámos, com outros colegas e realizámos durante 20 anos, Encontro das Taipas, e esse projecto foi apresentados em Lisboa.

Mas nada mudou.

E passados quase 17 anos estamos na mesma: sem recuperadores e sem distribuidores onde fazem falta 24 horas por dia, todos os dias do ano.

Porquê?

Em Portugal e nas condições do Sr Boaventura;

Quantas pessoas foram infectadas
Quantos mais danos morais e materiais provocados?
Que responsabilidades não foram devidamente assumidas?

Quantas mortes poderiam ter sido evitadas?

As falhas na Prevenção, os silêncios de quem conhece a realidade na sua vila ou cidade e a ignorância de quem devia ser responsável, agravam a saúde de quem sofre.

Não há "magias", mas há soluções que podem ajudar e ajudam a reduzir os riscos nos comportamentos que podem provocar danos, e danos irreparáveis, ou de tratamento muito oneroso.

TUDO TEM UM PRINCÍPIO.

Aprender com quem nos ensina é prova de inteligência, gratidão, educação.

Foi com T3E que conhecemos e divulgámos estes utensílios para intervenção em saúde pública. Não ignorámos. E continuamos a não ignorar e continuamos a divulgar.

Através de T3E Toxicomanies Europe Échanges Études, associação francesa e europeia que ajudei a criar, e que ajudou muitos portugueses, aprendi muito e partilhei bastante. Ainda hoje tal continua a acontecer: continuo a aprender e a partilhar.

E este é mais um oportuno momento para voltar a agradecer aos pioneiros companheiros de caminho internacional de 1987 a 1990, Aimé Charles Nicolas, Jean-Pierre Démange, Didier Touzeau, Claude Vedeilhie, e Louis Renault já com T3E, e muitos outros mais que se juntaram e ajudaram, muitos mais colegas e amigos de outros países e que iremos recordar.

Para que não se esqueça, se respeite a história e a memória.
Muito obrigado por ler, ver e nos acompanhar.

Seringas e demais consumos de risco

Para que em Portugal se reconheça e perceba

a necessidade de mudanças