Agradecendo o recente convite do Jornalista Delfim Machado, do Jornal de Notícias, para comentar a noticia sobre o Relatório da Droga em Portugal, e com a devido acordo, aqui partilho o meu contributo, com a totalidade das respostas enviadas.
DM - …
novamente um acréscimo do número de consumidores de cocaína (inclui crack) e
dos consumos de alto risco cocaína.
LP - Para quem trabalha com quem adoeceu, com quem sofre e faz sofrer, é evidente o aumento do consumo de cocaína snifada (Branca) entre quem a pode pagar.
A cocaína é gulosa e
cara.
Em Portugal é lamentavelmente baixo o nível de consciência e reconhecimento do risco aditivo de consumir cocaína.
A prevenção falhou declaradamente.
De forma crescente, desde o início deste século e, agravado nos últimos 10 anos, o consumo tornou-se moda urbana, hábito “chique”, “moderno” banal em contexto social, festivo, e também nos últimos anos, também já em contexto festivo familiar.
E com pessoas instruídas, emprego bom ou médio, mas com graves carência de Educação para a Saúde.
E muitos consumidores com brutais experiências de bebedeiras na Universidade e outras experiências de risco para a saúde.
Para estes consumidores de
século XXI. a prevenção não existiu ou falhou.
Quando o consumidor muda para o contexto de uso individual, deixou de fazer o chamado
uso festivo social, ocasional ou regular, para sentir de forma manifesta a evidência
do sofrimento e da dependência, muitas vezes com álcool, sexo ou ecrãs.
E os
estragos individuais ou familiares surgem, até pelos gastos de 30 euros a 70
euros por grama, em ciclos de consumo que podem atingir até mais 1000 euros em
fim de semana.
Acresce que muitos consumidores em sociedade consomem depois de terem bebido álcool, o que lhes diminui a sensação de bebedeira, e assim aumentam o consumo de álcool, para valores marcadamente danosos para a saúde (o organismo “fabrica” uma outra substância (cocaetileno) que ainda mais agrava a saúde.
E, para
quem lucra com os negócios da venda de bebidas com álcool revelam-se movimentos
financeiros muito vantajosos.
É o
sucesso do consumismo, da geopolítica económica, em detrimento da saúde
individual, familiar e comunitária.
Mas há um
outro lado, também muito desgraçado, marginalizado.
Quem esteja menos abastado para comprar branca, compra pequenas “pedras” de cocaína cosida ou base ou crack, que, habitualmente, consome fumando em cachimbo artesanal ou improvisado.
Esta forma
de consumo, inalando o fumo para os pulmões ainda é bastante mais aditiva e
agressiva.
Pode-se ver ser feita na rua, nos bairros, habitualmente por pessoas mais pobres, ou na exclusão social, e muitas vezes, desgraçadamente, por pessoas que estando em tratamento por exemplo com metadona, não recebem todo o tratamento de que necessitam.
Na verdade, o tratamento sendo insuficiente, é por muitos
consumidores, complementado com outros “tratamentos”, álcool e crack.
E fumar crack sendo de efeito muito rápido, ainda agarra mais os consumidores e sendo acessível, perto de si, “barato”, por exemplo em Lisboa meia quarta a 5 euros em Olaias, Moscavide, Serafina, Loureiro ou 10 euros uma quarta , enquanto houver não se pára.
E… para aterrar compra-se metadona.
Esta é uma verdade que doi a quem sofre e a quem trabalha para ajudar a melhorar a
qualidade dos tratamentos.
Em
Portugal justifica-se uma avaliação sobre a qualidade dos tratamentos em
adições.
DM - Ao mesmo
tempo, as mortes por overdose estão a aumentar apenas no que concerne à
cocaína, tendo-se revelado um aumento significativo e entre os jovens. Em dois
terços das mortes por overdose, a cocaína estava presente. E um terço das
mortes por overdose são de jovens.
LP - Overdoses são maioritariamente acidentes resultantes da ignorância.
E surgem muito mais por consumo de sedativos, nomeadamente opiáceos.
E o antagonista* que pode salvar vidas é uma miragem, existente na lei, com propaganda na imprensa, mas, longe da existência banal, onde devia existir.
Nem nas farmácias é fácil de adquirir.
E não é droga, mas pode salvar quem esteja a morrer.
E onde não esteja acessível, pode haver mais mortes por overdose.
Em
Portugal justifica-se uma avaliação sobre a qualidade dos tratamentos em
adições.
DM- O que lhe
peço é um pequeno comentário sobre a realidade da cocaína atualmente em
Portugal, para tentarmos perceber se de facto há aqui um problema a escalar,
nomeadamente em relação aos jovens.
LP - De facto, há aqui um problema a escalar, nomeadamente em relação aos jovens: abunda a ignorância, a falta de Prevenção = Educação para a Saúde individual, familiar e comunitária.
DM - Também gostava de perceber, do seu ponto de vista e de forma resumida, que efeitos do ponto vista pessoal, profissional e familiar esta droga e a sua dependência comportam. Por fim, se me quiser dar duas ou três soluções/ propostas para o combate ou prevenção deste uso, também acolhemos.
LP - A percepção de riscos para a Saude é tão baixa, que o abuso de álcool é banal nas famílias, o consumo de canábis, em casa e na rua, é banal em Portugal e, ninguém sabe a qualidade da ganza, dos fumos do hash ou da erva que consome.
O consumo de cocaína e crack está descontrolado.
Insiste-se em anunciar beba com moderação, insiste-se em anunciar jogue com moderação e não se explica quanto isso é.
E diz-se: seja responsável.
A
irresponsabilidade abunda e a ignorância também.
As estatísticas nunca mentem, ouvi de um profissional do INE e de outro do Observatório Europeu da Droga, quando mostrei discordar do que fora publicado.
“Só trabalhamos sobre os dados que nos são enviados”.
Não enganam, tèm, a sua verdade.
Enfim em
meu parecer, sobre os comportamentos de risco aditivo, Prevenção e Adições
patológicas, em Portugal, neste século não temos estado bem e, estamos mal.
Há que
ter a coragem de olhar toda a verdade e fazer melhor: para as famílias, pouco
vale, se lá fora é pior.
Melhorar
é possível. Tem de ser.
Anexo mensagens que divulgamos pelo país e pela net
Obrigado por ler este texto. Boas reflexões.
Luis Patrício
* Naloxona, antagonista opiáceo. Para saber mais leia aqui este texto publicado no ebook
https://maladaprevencao.blogspot.com/2024/04/alcool-canabis-e-mais-realidades-o.html
3 - Naloxona na rua
Naloxona é um medicamento[111] que não provoca overdose, nem dependência. Naloxona é um medicamento que não droga ninguém e que pode ajudar a salvar a vida. Serve para reverter uma overdose de heroína, overdose opiácea, anular uma situação de risco de morte por depressão respiratória, paragem respiratória e coma. É de uso imprescindível para salvar a vida de uma pessoa em overdose de heroína. Desde há muitos anos que é usado nos serviços de urgência e de emergência onde existe em ampolas. É normal.
Mas, é mandatório que também exista em todos os serviços médicos, e instituições de saúde que apoiem consumidores que injectam opiáceos, nomeadamente heroína, incluindo estruturas residenciais. E seria normal que naloxona existisse também em ambientes festivos onde haja consumidores, nomeadamente em festivais.
Para salvar uma vida ameaçada, em coma opiáceo provocado pelo consumo de heroína, para reverter esse coma, importa manter com vida a pessoa doente, até chegar o socorro com apoio médico diferenciado. E, para procurar manter essa pessoa a respirar, este medicamento naloxona, deve estar nas zonas onde possa acontecer a overdose. E deve estar disponível, para que, uma outra pessoa, de imediato, o possa administrar no consumidor que esteja em situação de overdose. Mas, essa administração imediata de naloxona só acontece, só é plausível de acontecer, onde o medicamento exista, disponível, acessível e exista ali quem o saiba administrar. Mas, naloxona[112] onde há? Quem sabe onde está?
Em 1993, foi há trinta anos que então aprendemos em Roma, com a Equipa do Prof Massimo Barra, Ville Maraini, como intervir na rua, salvando vidas, injectando prontamente naloxona, e assim mantendo a pessoa com vida até chegar o socorro da emergência. E, desde 1993 que defendemos que ampolas de naloxona devem estar "na rua ao alcance de quem precisa". Aprendemos e partilhámos regularmente e também nos textos que escrevemos. Muito temos escrito e partilhado sobre este tema. Mas…
Em 2014, aprendemos com o Dr. Joan Colom Farran que, em Barcelona, há serviços competentes que oferecem kits, contendo ampolas de naloxona e seringas, no programa Prevenció de sobredosi d’opiacis. para que seja feita a sua utilização em qualquer local, a qualquer hora. Aprendemos, colocámos este Kit Prevenció de sobredosi d’opiacis na Mala da Prevenção, e que juntámos à já existente Seringa pré cheia com Naloxona. E assim, regularmente partilhámos esses ensinamentos e, também nos textos que escrevemos e em que defendemos sua aplicação em Portugal. Mas…
Afirmei então … temos um grande[113] atraso na resposta de rua à overdose opiácea.
Em 2017 também aprendemos que já existe spray nasal de Naloxona em França, e que estava em estudo na prática de colegas, nomeadamente de colegas amigos, Dr. Fadi Meroued em Montpellier e Dr. Didier Touzeau, em Paris. Aprendemos o uso da Naloxona Spray nasal, na rua e em casa. e procurámos partilhar essas recentes actualizações do conhecimento em Portugal. E uma vez mais organizámos acções de formação com instituições com equipas de rua e para quem mais desejasse participar, como aconteceu em Junho de 2017. Reduzir riscos Minimizar danos Saber mais Fazer melhor, foi o tema dessa formação[114] para reflectir sobre O que temos e o que nos falta, reflexão que pude partilhar. Na mesmo acção de formação, pudémos ouvir as intervenções da Enfermeira Patrícia Pereira e do Enfermeiro Viriato Silva sobre Injecçáo IV e Redução de Riscos. Então também puderam ensinar como injectar com menos riscos, a quem trabalhava nas equipas e desconhecia, pelo que não sabendo não podia ensinar quem se injecta. E a concluir todos aprendemos mais, com a intervenção do Dr Fadi Meroued, explicando o uso do spray nasal de Naloxona na overdose opiácea, a novidade 2017. A todos uma vez mais obrigado.
Em Novembro de 2017 foi aprovado pela agência europeia do medicamento. EMA[115]. Naloxona spray nasal, para adultos e adolescentes de idade igual ou superior a 14 anos.
E comentando insistimos nesta divulgação[116], também partilhando em Novembro 2017 imagens com naloxona em ampola, seringa pré cheia e spray Mala Da Prevenção Dr Luís Patrício 21 de Novembro de 2017 · SALVAR VIDAS com NALOXONA por perto dos CONSUMIDORES. Assim se lê: Nos anos 90 aprendi em Itália, o seu uso injectável na rua, na overdose opiácea. Desde então defendemos a sua posse por consumidores e pelas suas famílias. Portugal precisa, desde há muitos anos. Um dia terá que acontecer.
Em 2018, naloxona spray nasal pronto a usar para salvar, finalmente passou a estar legalmente disponível na União Europeia, para quem o desejasse poder utilizar em caso de risco de morte.
Em Fevereiro de 2018, a imprensa[117] em Portugal, anuncia que naloxona spray vai chegar.
Em Abril de 2018, no dia 17, assim publicámos em Mala Da Prevenção · ROMPER os SILÊNCIOS. Naloxona não "droga" ninguém, e pode salvar vidas de quem esteja em coma opiáceo (heroína, metadona). Quantas tragédias aconteceram em Portugal por falta de naloxona junto dos consumidores? Porquê o uso exclusivo de ampolas em serviços de saúde?
Desejado nas ruas de Portugal, desde 1993. Quem trabalha com doentes não mente. Falta muita humildade para aprender com quem sabe. Naloxona spray nasal rápida administração. Fácil eficaz para salvar. Tem que estar disponível onda faça falta. Mala Da Prevenção Dr Luís Patrício 17 de Abril de 2018 · Finalmente. Ao fim de tantos anos. A solução está a chegar PARA SALVAR VIDAS. NALOXONA inalador SPRAY NASAL. RÁPIDA ADMINISTRAÇÂO FÁCIL EFICAZ PARA SALVAR. TEM QUE ESTAR DISPONÍVEL ONDA FAÇA FALTA[118]. Desejado nas ruas de Portugal, desde 1993. Nunca desistir. Basta do mesmo. Finalmente chegará à rua este ano. Assim esperamos. LPatrício.
Em 2018 também aprendemos que em França, este medicamento naloxona, disponível em spray nasal, já é distribuído onde faz falta, porque pode ser útil. É um medicamento distribuído a consumidores, familiares e amigos. Prevenção é Educação. Prevenir é antecipar. Então publicámos imagens de embalagens de naloxona em spray e de kits com ampolas de naloxona, oferecidos a consumidores em Barcelona e em Paris. Naloxona[119] spray nasal ou injectável, pode salvar vidas. Tem salvo muitas vidas.
Escrevemos então: Medicamento que pode salvar vidas em caso de overdose de heroína. Deveria estar acessível nos locais frequentados por consumidores de heroína. Ex: em casa, no escritório, no local de consumo de rua, na prisão, etc. Distribuir a consumidores, familiares e amigos.
Naturalmente que qualquer centro de tratamento deve ter disponível naloxona para eventual uso no local e para ensinar como e quando usar e oferecer.
Em França, há centros de tratamento, onde este medicamento pode ser levado pelo consumidor, familiar ou amigo. Pode levar dos locais onde se distribui, nomeadamente dos serviços de consultas e tratamento, de prevenção e de serviços de redução de riscos. Pode levar quem desejar, para ser útil a alguém numa aflição.
Claro que há que aprender como fazer e de uma forma muito clara, põe-se esta questão e ensina-se: perante uma suspeita de overdose de heroína peça ajuda, ligue já à emergência médica e logo de seguida administre naloxona. Já! Em spray nasal[120] bastante fácil de administrar ou em ampolas para injectar. Os familiares de um consumidor, beneficiariam em saber reagir, saber fazer, se tal acontecer.
Em Junho de 2018 foi bastante divulgada a notícia que vai ser distribuído naloxona em Portugal, como se pode ler na comunicação social. Surge a ideia de esperança de que vai haver mudança, melhorias. Na realidade em Junho 2018 a imprensa anunciou que o medicamento está em licenciamento pelo Infarmed[121], Portugal vai distribuir kits anti-overdose às equipas de rua… Portugal junta-se aos dez países que já garantem a distribuição domiciliária da naloxona, um antagonista opiáceo…, um trabalho da jornalista Ana Faria no Jornal Publico[122].
Em 2019, a 18 de Janeiro fizemos mais um workshop de actualização em sequelas de comportamentos de risco[123], acção de intervenção para a comunidade, difundida para quem faz a gentileza e nos dá a honra de acompanhar o que fazemos. Mala Da Prevenção Dr. Luís Patrício SABER MAIS . MELHOR FAZER. Oportunidade para actualizar com o que se passa lá fora e ainda não passa cá dentro. Socorrer na Overdose, na rua ou em casa com naloxona spray. Acabar com Hepatite C.
Quem desejar, pode rever o vídeo desta sessão, Mala Da Prevenção . 18 de Janeiro de 2019 ·Overdose Opiácea - Tratamento com Naloxona spray com Meroueh Fadi - Mala Da Prevenção coorganizou e transmitiu em direto[124].
Em 2020, Março, publicámos[125] o livro DEPENDÊNCIA DE HEROÍNA. MEDICAMENTOS OPIÓIDES NOVIDADES e NECESSIDADES, L. Patrício et al., livro construído com a colaboração de colegas de Portugal e de mais cinco países. Dois capítulos são dedicados exclusivamente à partilha do conhecimento sobre Naloxona.
Capítulo V - Naloxona, antidoto para salvar uma vida na overdose da heroína por Luís Patrício.
Capítulo VI - A difusão da naloxona em Itália, por Augusto Consoli.
Este livro tem descarga grátis na internet. Para obter este livro em PDF faça, sff, Download aqui[126]. Descarregue, leia e partilhe. É uma forma de ajudar a que possa melhorar, o querer saber fazer. Espero que lhe seja útil…
Leia também o comentário do Dr. Henri Margaron[127], Psiquiatra e psicoterapeuta. Ex-Director do Departamento de Dependência da Província de Livorno (Itália). Se a população que contacta com os nossos serviços mudou no decorrer dos últimos anos, seja pela idade ou pelo tipo de substâncias de que abusam, permanece o facto de que o grupo de dependentes de heroína continua sendo o mais numeroso, o mais estável, mas também o mais complexo. Isso pode ser facilmente verificado em todos os países onde o acesso aos cuidados é garantido aos toxicodependentes.
Sabemos que o policonsumo costuma ser a regra, por um lado, porque o toxicómano quer aproveitar ao máximo os efeitos que as drogas podem facultar-lhe, de acordo com os momentos que precisa de enfrentar, mas também porque ele as alterna para atenuar ou corrigir efeitos, uma vez conseguido o que delas esperava. Nesse novo desafio lançado aos médicos, o tratamento da dependência de heroína permanece central, pois é muitas vezes em torno dessa substância que se estrutura o “baile” da politoxicomania, e a capacidade de a tratar correctamente continua sendo um procedimento fundamental.
É por isso que o último livro de Luís Patrício, "DEPENDÊNCIA DE HEROÍNA, MEDICAMENTOS OPIÓIDES NOVIDADES E NECESSIDADES" é particularmente importante. Desde a introdução da terapia de substituição de heroína com metadona por Vincent Dole e Marie Nyswander em 1963, vários protocolos foram propostos e novos medicamentos surgiram, durante muito tempo vítimas de preconceitos que por vezes mancharam a sua imagem. Graças à longa experiência de Luís Patrício e de outros especialistas, o livro oferece uma panóplia completa e clara dos principais protocolos adiados para uma terapia de substituição bem conduzida, combinada ou não com psicoterapia, bem como as indicações para a descontinuação suportável pelo dependente de heroína. Um importante livro, onde os médicos, fora de qualquer ideologia, podem encontrar preciosas indicações tanto mais, que todos sabemos o quanto é difícil o tratamento da dependência de heroína. Mas, justamente, estará o tratamento sempre a ser bem orientado? Henri Margaron.
Em Portugal, chegados a 2020, entre nós não se podem negar as overdoses, os riscos, os sofrimentos, os gastos e as mortes. Quem sabe, na verdade, a quantidade de overdoses e de mortes que aconteceram na realidade? O que não conhecemos? O que não evitámos? Esta será, alegadamente, uma outra expressão dos atrasos. Pode-se compreender? Ou não? E aceita-se em silêncio? Ou não?
Desde 2020, em Portugal, legalmente, está disponível naloxona em spray nasal.
Mas, será distribuído naloxona em spray nasal, será oferecido o kit em todos os locais onde existam consumidores de opiáceos? As respostas com verdade, podem ser uma surpresa que se pode imaginar, e que não será nada agradável. Creio que não.
Naloxona em spray nasal deveria estar acessível para todos os consumidores de heroína injetável, em casa, na rua, nas áreas de consumo, nos centros de consulta, nos albergues e nas comunidades. Nestes locais deveria estar sempre disponível para ser aplicado em quem dele precise para procurar salvar essa vida.
E para ter em casa ou no escritório, entendemos que quem puder comprar e pagar, deve comprar este medicamento na farmácia.
Mas, é preciso que a farmácia tenha esse medicamento para vender. E terá? Esta é uma informação que consideramos útil para TODOS. Prevenção é antecipação.
E como estamos em 2023? Afinal naloxona…
Naloxona 2023
Como se poderá perceber, também com a naloxona, alegadamente, nem tudo decorreu como, certamente, muitos desejaríamos.
Em Abril de 2023, naloxona medicamento “anti droga” que salva vidas, , alegadamente, não está em venda na farmácia subsidiado pelo SNS.
Mas, os comprimidos de Midazolam, que os doentes carentes de heroína, esmagam e injectam de forma abusiva para mitigar a ressaca, como veremos adiante, estão subsidiados pelo SNS, e podem ser receitados e, alegadamente, também se vendem e compram na rua. Desde há mais de 23 anos, que temos feito este alerta, temos divulgado esta aberração em saúde, sem adequado e necessitado bom resultado, pelo que aqui insistimos, uma vez mais, nesta partilha já velha, com esperança porque Água mole em pedra dura… e porque os homens também mudam.
Mas, voltando à Naloxona 2023 em Portugal, em muitas regiões, alegadamente na maioria, não se distribui naloxona spray nasal pelos consumidores de risco, onde, alegadamente, nem se oferece naloxona a familiares e amigos desses consumidores. Será que não haverá naloxona spray nasal para distribuir? Alegadamente onde se ofereça, serão excepções, que alegadamente confirmariam uma regra: alegadamente em áreas onde haja consumidores de heroína, a sua distribuição a consumidores, não abunda.
Recentemente na encosta do Casal Ventoso uma doente consumidora mostrou-me, a embalagem de naloxona spray nasal que tinha consigo: uma. Deveria ter duas, mas…. alegadamente não haveria para ser entregue a quem as deveria trazer consigo.
E soube que, alegadamente, em Portugal em 2022 terão sido destruídas pelo importador, centenas de embalagens de naloxona spray nasal, porque passou o seu prazo de validade e os serviços responsáveis nunca as compraram, logo nunca poderiam ter sido distribuídas. Alegadamente será por estratégia restritiva, incongruência, ou incompetência, ignorância, maldade? Coisa incomum?
Incomum terá sido também, alegadamente, uma sala de consumo em Lisboa que abriu portas e foi notícia, mas, que nem tinha, alegadamente, pessoas muito experientes, nem teria anda, alegadamente, antagonista naloxona. Alegadamente teria sido uma situação simbólica? Simbolicamente seria semelhante a começar a trabalhar com um carro de socorro bonito por fora e sem o motor ajustado e sem condutor experiente. Alegadamente terá sido a verdade da conveniência em detrimento da verdade da competência?
Alegadamente tudo isto reforça a expressão que uso por precaução: Se é droga, sobre droga desconfie, e confirme tudo antes de decidir o que quer que seja. Desconfie também do que digo e escrevo. Com inteligência exija mais prudência. Sobre droga vá confirmar tudo para não se enganar, nem ser mais enganado.
Em 2023, em Abril, mês em que escrevemos, um médico alegadamente não consegue, prescrever naloxona em spray numa receita do SNS. Não entra esse pedido, registo.
E alegadamente naloxona spray nasal também não está á venda nas farmácias em Portugal. Alegadamente não há para venda. Na farmácia não há porque, alegadamente, naloxona spray nasal está esgotado. E, sobre naloxona ampola, para comprar, ouvi na farmácia em Abril de 2023, que nada consta, nem existe.
Mas, tal como antigamente, como outrora, haverá certamente naloxona na urgência hospitalar e na ambulância da emergência.
Mas, em Portugal, para uso generalizado, alegadamente, em qualquer lugar, ainda não existe por agora. Mas, terá de haver e já passa muito da hora.
Sabemos, porque fomos ensinados e ensinamos, que em qualquer família onde exista quem consuma heroína injetada ou outro opióide[128], haveria menos inquietações se as pessoas tivessem ao alcance imediato naloxona, de preferência para nunca ter de ser usado. Mas, se uma situação de emergência vier a acontecer, haverá que ligar de imediato 112, explicar o que se passa, e logo de seguida, no imediato, aplicar a naloxona spray nasal, uma imprescindível tentativa para salvar essa vida. Primeiro passo, seguindo-se outros procedimentos que se podem e devem aprender[129].
Esperamos que, depois de tanto ler, o leitor tenha ficado a perceber um pouco mais sobre esta preocupante situação. Naloxona spray nasal, aprovado há 6 anos na Europa, em 2017, por cá, em 2023 na rua, ou não abunda ou não há. Mas, por cá há muitos consumidores de risco. E maior risco de recaída no consumo e com overdose, é para quem regressa à cena, porque esteve fora, distanciado porventura em algum confinamento, prisão, hospital ou comunidade. Não são raras estas tristes situações.
Na realidade a overdose pode surgir INADVERTIDAMENTE numa pessoa que após um período de abstinência de heroína (que diminui a tolerância), reinicia o consumo de heroína, com uma dose idêntica à que estava a consumir anteriormente; no consumidor que usou uma quantidade de heroína maior do que a habitual e que não a suportou; no consumidor de heroína que utilizou substância com maior concentração e que não suportou, ou em quem tomou outro opiáceo e não tolerou essa dose.
Na sociedade, nos diversos patamares sociais, nos seus membros mais distraídos ou porventura até egoístas, nem todos têm idênticos níveis de conhecimentos e de preocupações. Importa saber e divulgar o conhecimento, para que se saiba que este medicamento que não droga ninguém, devia estar muito disponível onde possa ser útil para salvar uma vida. É um antidoto que pode salvar a vida de um familiar, colega, conhecido, desconhecido ou de um vizinho, na overdose da heroína, uma intoxicação aguda com grave risco de vida.
Muito verdadeiro..A Educação para a Saude falhou.Agora temos de correr atrás do prejyizo e tratar as pessoas dependentes de SPA
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